UM PÉ EM PILARES

                                       

Meu pai sempre me contava a história que eu nasci em Pilares, no Rio de Janeiro, que no fundo era brasileiro.   Falava rindo do começo da história, que tinha acabado de ser formar em engenharia mecânica, queria correr o mundo, arrumou um emprego num navio, quase deu a volta no mundo, deixou a noiva em San Francisco.

Quando chegou ao Rio de Janeiro se deslumbrou com a entrada na Baia da Guanabara, nunca soube explicar o nome, quando desceu do navio, perguntou como podia ir para Copacabana que era tudo que ele tinha de referência, mas como era tudo que ele falava, lhe foram indicando os ônibus, não sabia que estava do lado errado.

Nisso passou um ele perguntou, lhe disseram que sim Copacabana, ia cheio de músicos com seus instrumentos, quando viu estava em Pilares, não tinha noção de aonde tinha se metido, le levaram a escola de samba que tinha um ensaio.   Ficou alucinado, foi quando conheceu minha mãe, Leontina Alvarenga, uma mulata, bem clara, que sambava como tivesse o corpo cheio de molas, ele ficou como louco a olhando, até que ela percebeu o gringo de cabelos vermelhos, a cara cheia de sardas, gostou do tipo, perguntou se lhe pagava uma cerveja.

Quando ele lhe explicou que queria ir para Copacabana, ela disse que o levava num inglês macarrônico.   Foram para Copacabana, se meteram num hotel, ficou com ela lá cinco dias no bem bom, para não dizer outra coisa, lhe disse seu nome inteiro Bob Smith, lhe deu seu endereço, caso ela resolvesse ir para San Francisco um dia.

Seguiu seu caminho, Africa, Austrália, de lá teve que voltar, pois sua mãe, estava mal, era a única pessoa que tinha de família no mundo.

Chegou para pegar o velório, era tarde demais, a enterrou, recebeu como herança a casa que viviam, arrumou logo um emprego, numa fábrica que trabalhou quase sua vida inteira, se casou com a namorada que tinha de antes, mas essa avisou que não queria ter filhos, na verdade não podia, tinha tido uma aventura enquanto ele esteve fora, tinha abortado, a coisa saiu mal.

Ele aceitou, vivia para seu trabalho.  Um belo dia, recebeu um presente, apareceu no endereço, um brasileiro, que estava fazendo um favor para sua irmã, me entregou na porta de sua casa, com uma carta escrita em um mal português.

Era da Leontina, ia se casar com um gringo francês, lhe mandava o filho que tinha tido com ele, eu tinha uns três anos mais ou menos.  Ele abriu a porta, viu primeiro um negro alto, que sorriu para ele com uma fila de dentes brancos, disse que eu estava escondido por detrás do homem, este explicou que vinha trazer seu filho, quando me viu foi amor à primeira vista, eu era igual a ele, claro, cheio de sardas, com os cabelos vermelhos, um pouco mais escuro que os dele. Lhe estendeu a carta, se quiseres posso ler para ti, explicou que a Leontina, ia se casar com um francês que não queria filhos, pois já tinha demais do seu primeiro casamento, no meu registro constava o nome dele Bob Smith.

Ela dizia que preferia arriscar mandar o filho para ele, que colocar num orfanato.

Isso eu já estava no colo dele, o olhando com adoração, tinha encontrado alguém como eu de cabelos vermelhos.

Sua mulher não gostou nada, tinha horror a crianças, seis meses depois pediu o divórcio, pois fez a clássica pergunta, ou ele ou eu.   Seu matrimonio não ia bem, depois ele já me adorava, cuidava de mim o tempo todo.   Arrumou uma senhora para cuidar de mim, enquanto estava trabalhando.    Em seguida se mudou para Detroit para trabalhar numa fábrica de carros, uma coisa que ele adorava.

Só voltou a se casar, quando eu fui para a universidade, encontrou como ele dizia uma alma gêmea era uma viúva mulata, tinha sido mulher de seu melhor amigo, já se conheciam de longa data, os dois tinham o mesmo tipo de humor, gostavam de sair, dançar, ir a jogos de beisebol, eu fiquei menos preocupado.

O adorava, pois com ele podia comentar qualquer coisa, quando tinha uns 15 anos me apaixonei por um companheiro de classe, antes fui falar com ele, como devia me comportar com isso, foi uma longa conversa, disse que eu esperasse que o outro se movesse em minha direção, demorou, pois os dois éramos tímidos, ele vinha dormir lá em casa, meu pai dizia que não queria que eu ficasse fazendo sexo por aí.    Nos separamos quando fui para a universidade, eu ia estudar em San Francisco, pois as fabricas de Detroit começavam a fechar, ele retornou a sua antiga casa, Drew foi estudar em NYC, nunca mais soube dele.

Consegui uma bolsa de estudos, para estudar literatura, era como ele um apaixonado pelos livros, pensava que depois podia ser professor.   Qualquer coisa que escrevia, ele era o primeiro em ler.

Me incentivou a seguir em frente, ainda não tinha terminado a universidade, me meti num curso de escrita criativa, que me saiu bem, em seguida consegui um emprego numa editora, para ler textos, analisa-los, para passar para o editor.

Também consegui editar meu primeiro livro de contos juvenis.  Não fez muito sucesso, a não ser em San Francisco.

Ele agora vivia com sua nova mulher Doris, que como não tinha filhos me adotou, vivia dizendo por que não voltava a viver em casa.                       A cada paulada que levava por meus romances frustrados, pensava por que não, mas prezava minha liberdade.

Meus romances, era os famosos de uma noite, com o tempo aprendi, se me convidavam para dormir, não significava que no dia seguinte seguiríamos com o romance, achava melhor depois da foda mal dada, me vestia, saia de fininho.

Quando meu pai me perguntava no domingo, ia sempre almoçar com eles, lhe contava, ele dizia um dia encontraras tua forma do sapato.

Me convidaram para trabalhar numa editora melhor em NYC, me disse para aceitar, pois era o melhor para mim.

Arrumei um apartamento minúsculo perto do emprego, a cor do mesmo era horrível, o fazia ficar melhor, o proprietário permitiu que pintasse pelo menos de branco.    Na verdade não passava de um quarto com banheiro.  Mas como passava o dia inteiro na rua, me parecia bem, além claro de estar dentro de minhas posses.  O Editor com quem fui trabalhar, era um sujeito temperamental, diziam que ninguém parava no posto que ocupava, por causa dele, mas ao contrário dos outros nos demos bem.  Eu gostava de trabalhar, lhe dava o trabalho praticamente mastigado, ele só tinha que digerir, falar com o escritor, os de menor importância passava diretamente para falarem comigo, só depois atendia.   Dizia sempre nas reuniões, finalmente encontro alguém que entende o que quero, mas o salário não saia do mesmo.

Eu continuava com a vida de sempre, romances de final de semana, uma noite quando muito, mas um em especial, mal chegamos à cama, vimos que não encaixávamos, ficamos o resto da noite conversando, ficamos amigos.

Saímos juntos, ele parecia ter feito sexo com toda NYC, ria muito dos seus comentários, fiz amizade também com uma garota que era secretária do chefe, com ela saia para almoçar, ou mesmo para jantar com ela, seus amigos num final de semana.

Por azar foi quando conheci Peter Brown, ele parecia tímido, tinha começado a fazer um estágio numa revista de moda, estava com a que apresentava como sua namorada.

Me levantei para ir ao banheiro, tinha acabado de mijar quando entrou, foi direto, se ajoelhou começou a chupar meu pau.  Alucinei, depois se levantou ficou me beijando.  Ele era muito bonito, se vestia de maneira de quem veio do interior, voltamos a mesa, por separado, mas ele mal falava, na despedida, lhe dei meu número de celular, mal cheguei em casa, ele estava chamando perguntando se podia ir até lá.   Foi uma noite estupenda, pela primeira vez tinha alguém para tomar um café da manhã no domingo.  Seguimos nos vendo, até um dia que apareceu com sua maleta, dizendo que tinha rompido com a namorada que queria viver comigo.

Nos mudamos para um apartamento maior, tinha acabado de ganhar um aumento, ele ia começar a trabalhar no Vogue.  Foram cinco anos juntos, meu pai quando o conheceu, me disse que tinha achado precipitado o fato de termos ido morar juntos, agora mal me sobrava tempo para escrever, quando muito pequenos contos de coisas que via pela cidade.

Conseguir editar, como “Conhecendo uma cidade”, as pessoas usavam o livro como guia para conhecer lugares interessantes de NYC, o qual não era o propósito do livro.

Quando chegou no quarto ano de relacionamento, um dia cheguei em casa, estava completamente drogado, queria fazer sexo, muito sexo.   Lhe perguntei por que tinha se drogado, ficou furioso comigo, que eu parecia sua mãe.  Saiu de casa batendo a porta, no dia seguinte voltou mais tranquilo, disse que a pressão do seu trabalho, ele só conseguia aliviar com drogas ou com sexo.

Me pediu desculpas, aí começou o calvário, estava sempre com um cigarro na boca de maria, ou mesmo bem colocado.  Um dia cheguei em casa o encontrei com 3 na cama, me chamou para entrar na brincadeira.   Coloquei todos para fora de casa, todos queriam o dinheiro que ele tinha prometido.   Estava se metendo com chulos, ficou furioso, me disse que eu não o satisfazia plenamente, se arrumou, foi atrás dos rapazes.    Não voltou essa noite, passei a noite inteira chorando, era uma pessoa totalmente desconhecida para mim.

No dia seguinte quando cheguei em casa, tinha limpado tudo, levado suas coisas, bem como algumas coisas minhas de valor.

Fiquei furioso, quando chamava seu celular, diziam que essa linha não existia mais.

Por sorte, justo nesse momento, me ofereceram um trabalho de editor adjunto numa grande empresa, para desenvolver novos escritores, ou escritores jovens.

Me pagariam bem, mudei de apartamento, sai da zona boemia da cidade, fui para um apartamento que era a minha cara, algumas vezes podia trabalhar em casa.  Amava meu canto, antes fui passar uns 15 dias com meu pai, que só fez um comentário, me desculpa meu filho, eu o achei uma pessoa que escondia alguma coisa, nunca o achei uma pessoa natural.

Chorei nos braços de meu pai.   Quando voltei, me dediquei a escrever contos, falando disso, dos desenganos do amor, de achar que conheces alguém, que no fundo não passa de belos desconhecidos no último momento, quando mostrei ao editor chefe, ele logo mandou fazer uma capa, meses depois estava nas livrarias, vendia como agua, quando chegou na segunda edição pediam entrevista, coisa que eu detestava.   Mas tive que engolir sapos, ir as entrevistas, pediam que falasse no assunto.   Procurava generalizar, como se fosse coisa que aconteciam todos os dias.

Como deixei de frequentar a zonas por aonde ele se movia, bem como seus amigos, não sabia nada dele.   Um dia encontrei a amiga que o tinha apresentado.    Foi franca comigo, prefiro que saibas por mim.   Está um trapo, já esteve duas vezes em reabilitação, mas parece que o problema é mais complicado.   Me contou que tinha me procurado, mas claro eu também tinha trocado de número de celular.   Ele me disse que te procurou.

Um dia recebi uma chamada de um hospital, me disseram o seu nome consta como contato de fulano, está internado com Aids, seria bom que o senhor viesse fazer um exame.

Fui, comentei com o médico que não o via a mais de anos, que tínhamos tido um relacionamento, o mesmo me soltou na cara, que ele tinha confessado, que no último ano do nosso relacionamento, fazia sexo com qualquer um que encontrasse na rua, antes de ir para casa, era uma necessidade dele.

Fiquei pasmo, tinha a vontade de rebentar tudo que via pela frente, perguntou se eu o queria ver.

Lhe pedi desculpas, mas não, se o faço, sou capaz de querer lhe rebentar a cara, imagino que ele não está para isso.

Sai dali furioso.

Meses depois, estava tomando café com um jovem escritor, ele tinha um certo humor, como eu tinha nascido no Brasil, seu pai trabalhava no consulado da cidade.   Falava horrores da saudade que sentia de lá.   Estava me explicando o que era saudade, o que significava, ria pois eu não sabia nada de português.

Fui ao banheiro enquanto ele esperava o café na barra, passei por um grupo, me pareceu conhecer as pessoas, mas estava apertado, quando ia saído do banheiro, ele apareceu na minha frente, vai ser como da primeira vez, levei um susto, pois era um esqueleto ambulante.

Me afastei, já soube o que fizeste no último ano que estávamos juntos, não quero nada contigo, sai dali, como um louco, o rapaz já tinha o café nas mãos, saímos, ele tentando me acalmar, nos sentamos numa praça, lhe contei minha história.

Imagina, agora tenho medo de fazer sexo com as pessoas, se já beberam muito, fico imaginando que me dirão, que não se lembram de nada, ou então se me parecem drogados menos ainda.   Se chego querem usar alguma coisa estranha, saio correndo, tudo por culpa desse filho da puta que me enganou direitinho.

Recebi uma chamada da minha conhecida, no dia seguinte, que a policia o tinha retirado do banheiro do café, pois estava fazendo sexo com todos que entravam, sem avisar que tinha Aids.

Fiquei horrorizado.    A mesma me avisou dias depois que o tinham assassinado, que tinha se metido com drogas pesadas outra vez, que devia muito dinheiro ao traficante, mais parecia um ajuste de contas, depois descobriram que tinha feito sexo com alguém para dizer depois que tinha Aids, a pessoa tinha perdido a cabeça, o matou.

Me falava do enterro, que sua família se negava a ajudar, bem como recuperar o corpo do filho, que ele seria enterrado como indigente, que fazia muito tempo que tinha perdido o emprego, que vivia de ocupa num apartamento abandonado.

Dias depois recebi recado de um advogado, era só um envelope, com um diário dentro, que ele tinha escrito durante o tempo que estava fazendo terapia em sua reabilitação.   Contava toda sua vida, que tinha sido abusado desde que tinha dez anos, pelo seu tio, que nunca ninguém acreditou nele, pois o tio, era um pastor evangélico.    Quando ficou numa idade que podia se defender, deu uma surra no mesmo, mas ao mesmo tempo, tinha chegado a amar o tio.   Confessava depois que quando tinha começado a tomar drogas, procurava isso, que abusassem dele, pois gostava disso, que o romance tinha comigo, mas a brutalidade tudo isso era o que ele gostava, me pedia perdão, pois eu tinha sido a única pessoa que o tinha amado.

Comentei com meu novo amigo, José Aparício Paixão, me disse uma coisa, se te dão limões faça uma limonada, escreva um livro sobre isso, coloque tudo para fora, é o que eu faço.

Seu primeiro livro, vi que era muito dramático, o ajudei a arrumar o livro, contava sua vida, vindo do Brasil, aonde fazia surf, tinha bons amigos, os pais se divorciaram, lhe tocou voltar para NYC junto com a mãe que tinha sua guarda, a falta de adaptação, os problemas que tinha enfrentado, brigas homéricas com ela, que queria dirigir sua vida, acabou estudando o que não queria.  Gostava mesmo de escrever, quando fez 18 anos, largou o que estava estudando para fazer jornalismo, agora escrevia para um jornal.

O segundo ele falava das suas experiencias desesperadas de encontrar alguém, como eu tinha feito, isso foi motivo de muitos papos, nos café, bem como em sua casa ou na minha, até que um dia acabamos na cama.

Até nisso ele era diferente na maneira de fazer sexo.  Com o outro ele era sempre o passivo, José não, gostava de tudo, me ensinou a me comportar na cama como um homem, eu ria disso, eu quero estar transando com outro homem.

Meu pai, veio com minha madrasta para passar um final de ano conosco, reclamou do frio de imediato, mas tinha papos imensos, com ele, contou como eu tinha nascido, eu já sabia a história, ele ria muito, quando dizia Pilares, com seu sotaque mais carioca.

Meu pai dizia que gostaria muito de voltar um dia, não conheci nada do Rio de Janeiro, soltava grandes gargalhadas.

Na época não fiquei sabendo, era como um encontro de despedida, ele tinha um câncer terminal, queria passar o final do último ano de sua vida perto de mim.

Num dia que saímos de braços dados andando pelo Central Park, ele ria muito, dizendo creio que encontraste alguém que te quer de verdade.

Atrás vinha minha madrasta conversando com o José, ela avisou a ele que meu pai estava mal, mas não queria que eu soubesse, que ele ficasse ao meu lado, olha como os dois se querem.

Quando ela avisou que ele tinha morrido, vim abaixo, se não fosse o José tomar todas as providencias, comprar bilhete de avião, me ajudar em tudo, creio que teria me metido num buraco.

Ele queria ser cremado, que eu levasse suas cinzas, para cada lugar do Rio de Janeiro que ele não tinha conhecido, pois estava ocupado me fazendo, até o fim tinha humor, fazia uma lista, me dizia para ser discreto, ir deixando suas cinzas um pouquinho em cada lugar, me dava inclusive dicas de como fazer.    Mas em especial, queria que eu fosse a Escola de Samba Caprichosos de Pilares, para deixar um pouco lá.   Ali tinha conhecido a Leontina.

Com o tempo comecei a me levantar, a casa como herança tinha ficado para mim, mas minha madrasta vivia nela, lhe disse que continuasse, que era o melhor, pois eu não sabia quando voltaria.

Voltamos para casa, pela primeira vez na vida, pude dizer a alguém que o amava.  José era o centro de minha vida, já tinha uma coluna no jornal, tinha uma pagina na internet, em que falava de todos os assuntos possíveis, desde política, algum acontecimento da cidade, da vida gay, dos livros, eu lhe passava resenha dos novos autores, ele entrevistava os mesmo, publicava no jornal, bem como em seu site.    Vivíamos agarrados um ao outro, eu que nunca tinha gostado de dormir agarrado a alguém se ele se levantava de madrugada para escrever alguma coisa que tinha sonhado, eu ficava desesperado, esperando que voltasse para a cama, senão me levantava ficava sentado ao lado dele.

Um dia por surpresa, me disse que tinham lhe pedido um artigo sobre o Rio de Janeiro, se preparando para o Carnaval.

Eu tirei férias fui com ele, nos hospedamos na casa de seu pai, que tinha se aposentado.  Ele ainda se lembrava de coisas, mas eu de nada, era como um mundo novo, mais colorido isso sim.

Tínhamos conseguido a autorização para as cinzas graças ao pai do José, ele tinha sido um brasileiro casado com uma americana, que tinha trabalhado a vida inteira no consulado americano, no centro da cidade.   Ainda mantinha boas relações por lá.

Começamos a distribuir as cinzas conforme a lista do que ele tinha pedido, a cada lugar que esvazia o pequeno envelope com as cinzas eu sentia saudade dele, rezava por ele.

Em vários lugares, senti como uma sombra ao meu lado. Mas deixei passar, acreditava que estava impressionado com isso.

Finalmente chegou o final de semana, seu pai que vivia na Gloria, me disse se prepare para a emoção, vamos a um ensaio da escola de samba.    De tanto o José falar comigo, em português, conseguia falar, entender alguma coisa.   Fazia um calor infernal, mas me sentia ótimo, tínhamos saído com frio de NYC, o calor da cidade me deixava feliz, não sabia por quê.

Tínhamos ido à praia umas quantas vezes, minhas sardas ficavam mais fortes, meus cabelos mais vermelhos.

Enquanto estacionava o carro, já escutávamos a bateria tocando, era uma coisa vibrante, me sentia emocionado, sem saber por quê.   Entramos, o pai foi buscar umas latas de cerveja para eles, eu só bebia água, tinha sempre medo de álcool, drogas, essas coisas.

Devia estar com os olhos arregalados, ele tinha reservado uma mesa, nesse momento estavam apresentando um dos temas do samba enredo para o público, seu pai, João Paixão, me explicou como funcionava.  Sempre ria disso, explicar para um brasileiro que não sabia de nada as coisas.

Nisso um homem imenso, negro, se aproximou, perguntou se eu era Carlos Alvarenga Smith, lhe disse que sim.

Me puxou, me abraçou, já não te lembras de mim, não é verdade, sou teu tio, quem te levou para San Francisco.   Agora o olhava, me era familiar, me disse ao ouvido, tem uma pessoa que quer falar contigo, pensei que fosse a minha mãe, mas nada era uma senhora forte, uma mulata daquelas que todo mundo chama de mocetona, estava chorando quando seu filho se aproximou dela, é o meu menino, vê, eu o reconheci, é o meu menino.  Eu estava atordoado, me abraçou muito, ia falando para as outras senhoras, é o meu neto, que foi embora daqui em garoto.

João Paixão sempre muito prático, falou com meu tio, que era melhor sairmos, pois o ruido da música era muito alto, viu que eu estava atordoado.

Venham, minha mãe mora aqui perto.  De fato mesmo da casa se escutava o som da bateria.

Ela ia de braços dados comigo, dava dois passos me olhava, como dizendo ele está aqui. Foi contando que minha mãe tinha colocado na cabeça que era melhor ele estar com o pai que com ela.   Como está teu pai, eu só o vi uma vez, era igual a ti, tenho uma foto dos dois lá em casa, mas nunca imaginei que fosse tão parecido.

Contei para eles o que tínhamos vindo fazer, realizar sua última vontade.

Que um pouco das suas cinzas ficassem ali, aonde ele tinha sido feliz, que lhe tinha dado o filho que amava.

Me amou muito, foi um pai maravilhoso, não tenho nada que reclamar dele.

Entramos numa casa, ela nos levou por detrás, mania de velha, nunca levo a chave da frente da casa, pois se me roubam a chave, tenho os espíritos me guardando.

Se via uma árvore imensa nos fundos, fiquei com os olhos abertos, tinha muita gente em volta abanando as mãos para mim.  Foi como voltar a minha infância, corri até lá, ela ria, ele fazia isso mal conseguiu andar.  Está falando com seus amigos da infância.   Nunca mais tinha pensado nisso, tinha ficado guardado numa caixa no fundo da minha cabeça, foi como se a tampa tivesse voado, eu estava feliz.

Ela contou ao João Paixão, ele mal começou a andar, ia até o Iroco, ficava sentado, falando com os espíritos, minha filha sempre detestou isso, acredito mesmo que o tenha mandado para lá, por isso, odiava que eu fosse mãe de Santo, que a casa sempre estivesse cheia de pessoas, pedindo alguma ajuda, a gente faz o que pode.

Meu filho viveu muitos aos por lá, trabalhando duro, agora vive na Barra, mas vem sempre me ver, principalmente nos dias de ensaio, eu quase não vou, mas ele me convenceu.

Carlos, voltou da árvore rindo, eles todos se lembram de mim.  José que não via nada, dizia que tinha inveja, ele o arrastou, venha comigo, põe a mão nela, quando o fez, sentiu uma vibração imensa, se afastou, conseguia ver os orixás que estavam ali.

Ela os levou para dentro de casa, era tudo muito simples, eu gosto de viver como sempre vivi, tranquila, sem muitas modernidades.

Virou-se para seu tio, vê se a filha da puta da tua irmã, está no Rio.  Ela tem um apartamento no Leblon, que seu marido comprou para ela, vem para cá passar o verão, volta para o verão de lá, mas raramente vem aqui, acabamos discutindo, não gosto como se comporta com as pessoas daqui.

Ela estava no meio de um jantar, disse que não podia ir, ele tanto fincou o pé, que disse que vinha, que lhe desse tempo de colocar uma roupa mais simples.

Ele estava muito nervoso, disse a sua avô, nem me lembro da cara dela, não sei o nome de ninguém.

Ela ria, normal, tinhas 3 anos de idade meu neto, eu me chamo como dizias avô Nena, lembra-se, ele riu, pois se lembrou, teu tio se chama Gustavo, o pessoal daqui o chama de Guto, foi jogador de futebol, o levaram para a América, jogou lá um bom tempo, ganhou muito dinheiro, que investiu aqui no Brasil, por isso pode te levar para lá.

Espere vou mandar passar um café, chamou alguém veio uma moça, que ela disse que era a Yao da casa.   Mandou fazer um café.

Ele a olhava impressionado, tinha uma cara que lhe dava vontade de beijar.  Até que foi outra vez até ela, ficou de joelhos, deitado com sua cabeça no seu colo.

Como gostavas de um cafune, verdade meu neto, começou a cantar para ele baixinho a música que ele gostava, era de ciranda, coisa de criança.  A música lhe veio inteira na cabeça, começou a cantar com ela.

A conversa estava boa, seu tio contava ao José que tinha uma churrascaria na Barra da Tijuca, hoje meu filho fica cuidando para mim, porque amanhã, com certeza vai desaparecer para fazer surf.   Me casei com uma americana, ela não gosta muito de vir aqui ao samba, eu adoro, a desculpa que dou, é que venho ver minha velha.

Em casa falamos inglês todo o tempo.

Os dois tinham que ficar aqui alguns dias, para fazermos uma firmeza para vocês, o mundo que vivem é muito competitivo.

Ela não soltava a mão do neto de jeito nenhum, de vez em quando seu olhar se dirigia ao Iroco, fazia um ruido de hum, hum, que devia corresponder a um sim, sim.

Eita, soltou seu tio, é sempre assim, estou falando com ela, olha para o Iroco, me solta alguma resposta do que estou falando com ela.   Ela me alertou que eu ganhava muito dinheiro lá, a principio estava encantado, me disse que tinha que sonhar, mas com os pés no chão, um dia tudo isso acaba, tens que ir investindo em coisas que aqui te saem barato pela diferença do dólar, fui comprando apartamentos, lojas, o local aonde tenho a churrascaria, que já era um restaurante antigo.   Por isso hoje estou bem.  Meu filho se adaptou bem, minha mulher é muito americana, as vezes passa mais tempo lá que cá.

Eu voltei uma vez para te procurar, queria saber notícias, a casa estava alugada, a pessoa me disse que vocês tinham mudado para Detroit, mas não quis me der o endereço, me olhava de cima a baixo, como dizendo o que quer esse negro aqui.

Tampouco deixei meu endereço com teu pai, me pareceu boa pessoa, me lembro da emoção dele quando te viu, de como tu te agarraste com ele, o olhavas como dizendo, encontrei um igual a mim, com os mesmos cabelos vermelhos.

Já era quase meia noite, quando sentiram um carro parar na porta, apareceu uma mulher que se ele encontrasse na rua, não saberia dizer quem era.  Mulata clara, muito bem vestida, elegante, com uma cara fria, sem saber por que ficou com um pé atrás.  De imediato não o viu, posso saber o que era tão importante para que eu viesse do Leblon até aqui.

Meu tio me puxou para a frente dela.  Me olhou, que faz esse garoto aqui, aconteceu alguma coisa com o Bob.

Nem se aproximou, pois não sabia o que fazer.

Não te disse meu filho, uma filha da puta, olha o filho, nem se aproxima, dá um beijo nada, nem tampouco perde essa pose de besta.

Na verdade não cuidou de ti nenhum dia, mal te pariu, trouxe para cá, só voltou no dia que resolveu te mandar para o teu pai.

Ele respirou fundo, soltou, vim trazer as cinzas do Bob, pois ele queria que elas fossem distribuídas em cada lugar do Rio de Janeiro que sonhou conhecer, mas não viu, como ele dizia as gargalhadas, porque estava me produzindo.   Fizeste bem em me mandar para lá, me amou, me fez ser o que sou hoje em dia, nunca falou mal de ti, nada disso, viveu para mim.

Foi meu melhor amigo, pai, tudo que alguém pode esperar da vida.

A resposta dela, era interessante conforme o ângulo que se olhasse, eu tinha razão, pelo que me lembrava dele, dizia que queria ter filhos.  Eu não, depois meu marido, já tinha filhos demais, além da maioria serem adultos.  Na primeira vez que te viu, deste um chute no saco dele, começou a rir, sem parar, virou-se para o irmão, sempre me lembro disso, ficaram rindo, ela se relaxou, se aproximou dele, seja bem-vindo filho, fico contente de ter feito o melhor para ti.

Era como se fosse nem fu, nem fá, pois não sentia nada por ela, ao contrário da alegria de encontrar sua avô.

Ia falar das cinzas, mas sua avó, lhe segurou, lhe disse baixinho, espera.

Ela comentou como vivia, a herança do meu marido foi bem dividida, em vida mesmo ele já tinha deixado as coisas como eram para ser, fiquei com dinheiro no banco lá, um belo apartamento, tenho amigos por lá, o rendimento do dinheiro dá para viver bem, o apartamento daqui ele já comprou no meu nome, pois estava velho, mas queria morrer aqui.

Creio que como teu pai, a cidade o enfeitiçou.

Ela ainda tinha um corpo de fazer inveja, só lhe perguntei, foste feliz com esse senhor?

De uma certa maneira sim, ele me deu a vida com que eu sonhava desde criança, que era sair daqui de Pilares, ir pelo mundo.   Isso eu fiz.  Mas como diz tua avô tudo tem preço, agora estou sozinha, venho para cá, tenho um pequeno circulo de conhecidos, compro pedras, joias antigas, vendo por lá, ganho um dinheiro extra, para meus luxos.

Lá pelas tantas disse que tinha que ir embora, não gostava de ficar com seu carro parado na frente da casa, o motorista devia estar cansado, se despediu de todo mundo, lhe deu dois beijos, fez um tchau, foi embora, sem dar o endereço, nada.

Quem estava de boca aberta era o José Aparício, falo mal da minha mãe, mas a tua a supera, menos mal que não é chantagista como a minha.

A tua te levou com ela, verdade, mas não permitiu que viesses aqui ver teu pai.

Ela no fundo achava que poderia ter feito um casamento melhor, como funcionaria pública americana, ter casado com um pé rapado brasileiro.

João soltou que achava que tinha casado com ele, porque ficou gravida, era uma funcionária graduada do consulado, quando surgiu a primeira oportunidade se mandou levando meu filho, mas nunca deixei de escrever para ele.

Não podia fazer nada, porque o juiz tinha decidido fazer assim, mas fui várias vezes lá o ver, passamos juntos bons momentos, verdade filho.

O Abraçou.  Era o que tinha faltado entre ele e sua mãe.

Quando foram falar com ele, já estava outra vez ao pé do Iroco, escutando o que lhe diziam, ele tem um dom soltou sua avô, creio que isso a assustou, uma dia chegou aqui, ele se virou para ela disse, vais dar o golpe do baú, nunca a chamou de mãe nada disso.  Ficou olhando para ela.

Se voltou para o Iroco, dizendo, vocês tem razão, ela é vazia por dentro.

Ficou uma fera, com que eu estava falando, sempre teve horror a qualquer coisa que tivesse a ver com os Orixás, preferia dividir um quartinho com alguma amiga em Copacabana que viver aqui.   Não posso reclamar, podia ter sido uma puta, mas falava duas línguas pelo menos, trabalhava num hotel, foi lá que conheceu o Francês.

Pelo menos ela é ou pensa que é feliz.

Mãe, tá na hora da senhora ir para a cama.

A deixaram, ela o abraçou, venha me ver meu neto, temos muito que falar.

Eles voltaram para o samba, embora Carlos estivesse quieto.  Chegando lá, ele se sentiu tentado a tomar uma cerveja, mas estava morto de sede, quando viu estava dançado como mais um deles, se relaxou, não adianta esquentar a cabeça.

Foram para casa, ele dormiu agarrado ao José, com medo de perde-lo.

No dia seguinte tinha combinado, de irem comer na churrascaria do tio Guto, não tinham ido ainda a Barra da Tijuca.

Ele tinha dormido com a mãe, a fez vir com ele, o filho que ia fazer surf estava lá de má vontade.

Quando viu o primo e o namorado dele, escapou de fininho. Sua praia era mais importante.

Beijou a avó, dizendo já volto, não o viram o resto do dia.  Sua mulher fazia um esforço danado para ser simpática.

Seu tio avisou sua mãe, aonde estava, mas disse, quem atendeu o telefone foi a empregada, que disse que antes das duas da tarde a senhora não levantava.

Sua avó morreu de rir, sempre foi assim gostava do bem bom, dormir até tarde, ficar pensando na vida, lendo contos de fadas, sonhando com a vida como dizia, pedir para ajudar, nem pensar.

Cada um tem a vida que lhe concedem.

Ele estava sentado do lado dela, ela se virou para o João, perguntou se no dia seguinte podia trazer esses meninos, que iam dar um jeito nas cinzas, que não era bom estar com elas de um lado para o outro.

Venham os três, mando preparar uma boa comida brasileira, beliscou a cara do José, verdade coisa bonita, eu também cairia sobre teu feitiço, ele te ama muito.

Seu tio não tinha entendido ainda que os dois viviam juntos.   Olhou para o João, que levantou o ombro, dizendo a vida é dele, se é feliz assim eu também.

Fazes muito bem João, soltou avó Nena, assim se vive melhor.

Ele, saiu para caminhar pela praia com o José, muita coisa na tua cabeça, verdade lhe perguntou?

Sim nunca pensei em encontrar minha mãe, nem me lembrava da cara dela, tampouco do resto, creio que ficou tudo guardado em algum lugar da minha mente. Contou que todos esses dias sentia que tinha uma pessoa acompanhando o que fazia.  Me dizia para deixar por último a árvore, mas eu não me lembrava do Iroco.

Quando vi, lá estavam os meus amigos de criança, adorava ficar conversando com eles, ali sentado na frente da árvore.  Minha avó sempre estava atendendo alguém, sempre tinha como a de ontem uma pessoa lá com ela.   Então eu ficava sozinho com eles, me sentia fantástico, creio que quando meu tio veio me buscar para levar para o meu pai, devo ter aprontado um grande berreiro.

Imagina, nunca tinha escutado falar do meu pai, ela aparecia quando queria por aqui, as duas sempre discutiam porque dizia que me deixava abandonado, que nenhuma mãe devia fazer isso, porque depois pagaria por isso.

Veja o comportamento dela ontem, se despediu como eu fosse uma pessoa qualquer, nenhum gesto, fiquei até tarde da noite pensando nisso, acho que ela perdeu essa capacidade de amar.

Era ao contrário, me lembro do meu pai chegando em casa, correndo para aonde eu estivesse, me levantando no ar, perguntando como tinha sido meu dia, tinha paciência de escutar tudo que eu lhe contava. Depois ficávamos juntos, sempre.  O amei pois foi o melhor pai que podia ter.

Outro talvez dissesse esse filho não é meu, ou ter corrido para um médico para fazer um exame de ADN, embora na época não existisse.

Me quis nada mal ao me ver. Tinho uma foto dos dois, juntos, nessa época, era como se eu fosse a miniatura dele, os dois rindo muito.

Quando fiz 10 anos, tirou férias fomos a Disneyland, nos divertimos muito, voltamos para casa super cansado de tantas coisas que fizemos.

Quando voltamos para San Francisco, eu ia a um bom colégio, nos finais de semana estávamos sempre juntos, sempre tinha um programa para fazer.

Uma lastima que não conheci meus avós, pois ele era muito apegado a sua mãe.  Ela lhe deixou a casa, que ainda está lá.

Agora reencontrar a Nena é o máximo, pois sei que ela me amou também, veja a alegria dela em me ver.   Mesmo meu tio, tudo que me lembro dele, é no avião segurando minha mão, dizendo vai dar tudo certo, é um cara legal, mas a mulher dele não encaixa aqui.  Ou ele gosta muito dela, ou está com ela por causa do filho.

Minha avó diz que é raro ele ir até lá. 

José soltou, imagina um surfista dizer aos seus amigos, minha avó é mãe de Santo, iriam olhar para ele diferente.  Veja como todo mundo olha, ela ali sentada, com esse tocado que representa alguma coisa que não sei.   Mas se algo lhes aperta o cu, correm todos aos orixás para serem ajudados, isso diz meu pai.

Estou tão contente de estamos juntos, que se não fosse pelo trabalho, eu ficaria aqui com ele, contigo é claro.

Estavam acostumados a andarem de mãos dadas em NYC, que nem perceberam o pessoal os olhava.

Quando entraram assim no restaurante, seu tio se matou de rir.  Pois tinha visto pelo vidro que as pessoas olhavam.  Aqui dizem que são livre de preconceitos, mas isso é o mesmo que contar uma mentira, todos tem todos os preconceitos possíveis.

Sentaram-se ao lado da sua avó, que lhes disse, já combinei tudo com o João, amanhã ele leva vocês, vamos fazer uma cerimônia simples, colocas as cinzas de teu pai, no Iroco, assim dentro de breve poderás vê-lo.

Só de imaginar isso, ele ficou contente, depois vamos fazer uma firmeza para os dois, escutar os Orixás, para saber com devem seguir a vida de vocês. Ok.

Seu tio ia leva-la para casa, mas João disse que não se incomodava em leva-la, assim iam conversando mais.

Ele a ajudou a entrar no carro, ela disse que gostava mais deste do João, não era como os dos filhos cheio de nove horas.

No dia seguinte, foram para a casa da vó Nena, só estavam ela, bem como a Yao, com tudo preparado.   Os dois tomaram um banho de ervas, depois ela jogou para cada um em separado, lhe disse ao seu neto, que seu Karma era grande, pois tinha todos os guias lhe esperando desde criança, mas tu sabes o quanto isso é sacrificado, eu não tenho uma casa de santo, como os outros, essa casa sempre foi da minha família, esse Iroco esta ai, desde antes de minha avó, sempre um da família seguiu o caminho, meus filhos não estavam para isso, nem tem noção de nada.

Pensam que eu não sei o que pensam disso tudo, me mágoa, mas respeito, mas quando as coisas apertam correm para pedir alguma coisa.   Esse é o mal, as pessoas procuram ajudas, algumas querem um trabalho, mas não um emprego, o número da loteria se vai sair, sempre procuram por banalidades, por isso, minha mãe tinha casa de santo, mas a fechei, só atendo quem eu quero. Nada de perder tempo, não tenho filhos de santo, apenas ajudo quem eu acho que se ajuda.

Se um dia resolveres o que fazer, seja como tu queiras, a única coisa que acho é que deves pensar muito, tens tua vida lá.  Essa é uma outra vida.

Tens tempo para pensar, não penso morrer tão rápido.

Quando jogou para José, ficou olhando, tornou a jogar, chamou a Yao, lhe mandou preparar umas coisas, que o ajudou a levar a casa de Exu, para lhe dar segurança.  Lhe disse que ia aparecer o convite que tanto esperava, mas que era muito perigoso, que sempre estivesse atento a sua intuição, que se cuida-se muito, lembre-se disso, proteja-se ao máximo.

Foram os dois embora, só se despediram de sua avô, ela disse que adorava receber uma carta como antigamente, que quem tinha um celular era a Yao, lhe deu o número, sou antiga meu filho, sou antiga.

Não tornou a ver sua mãe, tampouco a procurou, pensou para que, é uma bela desconhecida.

Mal chegaram a NYC, lhe esperava uma quantidade imensa de trabalho, muitos jovens tinham mandado depois da entrevista na televisão, muito trabalho.

Mas era atento, revisava um por um, lia, se chegava a 10 pagina, sem ter nada de interessante, lia o final, se era igual de monótono, passava.

Mesmo assim, chegou a ter 20 textos na mão.

Agora os analisou profundamente, com um bloco ao lado, anotando coisas, só quando acabou o primeiro é que marcou um dia com quem tinha mandado.   O texto era interessante.

Era a visão de um rapaz despreparado para a vida, que para fugir da mesmice, que vivia tinha entrado para o exército, indo parar em Kandahar, as coisas não foram como ele queria, viu muita merda, gente morta, crianças abandonadas, o grande império americano, querendo impor uma nova uma visão a um povo apegado a tradição.

Voltou ferido, menos mal que tinha uma família para o apoiar, escrever era sua maneira de se colocar para fora.

Ficou impressionando com sua juventude, era de uma das cidades perto de Boston, o interessante era que falava português, institivamente, pegou sua mão, começou a falar, tiveste sorte, tens um protetor muito grande Exu Bara, te cuida.

Os olhos do outro eram imensos, como ele sabia dessas coisas.  Ele era filho de um brasileiro, com uma portuguesa, que tinham vindo para melhorar sua vida na américa.

O nome era curioso Osiris Dutra, achou graça, pois sentia afinidade com ele. Falou com ele do seu texto, foi mostrando tudo que tinha anotado, pediu para a secretária tirar uma copia destas anotações passou para ele, pediu que as fizesse, que voltasse.

Seguiu seu trabalho, José finalmente conseguiu o que queria, que o mandasse fazer reportagem pelo mundo, voltava morto de saudades, estava na Grécia fazendo uma reportagem, quando pediram que fosse cobrir uns acontecimentos no Afeganistão, apenas avisou o Carlos, com medo que ia dizer para não ir, disse que tinha uma nova missão, só escutou, cuidado.

O coração do Carlos ficou apertado, esperando notícias, embora ele tivesse falado, que quase não poderia se comunicar.

Estava preocupado, ao menor toque do telefone, ficava tenso. Mas graças ao trabalho, conseguia se distrair.  Trabalhava mais do que antes.

Estava atendendo justamente o Osiris Dutra, quando do jornal lhe chamaram dizendo que ele tinha sido ferido, que estava em estado grave, que o tinha levado a um hospital militar na Alemanha.

Avisou o João, como tinha contatos, este procurou se informar.  Mas no final do dia as notícias eram más, tinha falecido.

Ficou arrasado, tinha uma carta dele, para saber o que fazer caso lhe acontecesse algo, queria ser cremado, que suas cinzas fossem para o Brasil.  Enquanto esperava isso, lhe surgiu outro problema, sua madrasta, também tinha falecido.  Os parentes dela a enterraram, pensavam que a casa era dela, ficaram furiosos quando souberam que não, que nada era dela.

Ele foi até, lá para resolver a situação, foi necessário os retirar da casa, que ficou vazia por dentro, na verdade ele não tinha nada que quisesse dali, deu ordem para o advogado vender a mesma, deixou uma procuração com ele, para fazer isso, que depois depositasse o dinheiro na sua conta.

Enquanto esperava o corpo do Jose Aparício, mas seu pai, conseguiu que o liberassem direto para o Brasil como ele queria. 

Terminou esse trabalho a muito custo, pediu uma licença no trabalho, pois queria estar lá quando isso acontecesse.

João o esperava no aeroporto, o abraçou, já tenho as cinzas, foi uma briga horrível com sua mãe, menos mal que quando esteve aqui me deixou uma autorização que se alguma coisa lhe acontecesse, queria ser cremado aqui, que eu fizesse a mesma coisa que fizemos com teu pai, ele sempre tinha amado essa terra.

Foi em seguida visitar sua avó, está o consolou, ficou de joelhos, com a cabeça nas suas pernas, ela alisando seus cabelos.

Dias depois seu advogado avisou que tinha vendido sua casa.  Era um bom dinheiro, para o Brasil era uma verdadeira fortuna.   Nunca tinha tocado no dinheiro que seu pai tinha deixado para ele, juntando os dois, era como se dizia no Brasil, um bom pé de meia.

Foi dar uma olhada no mercado brasileiro, conversou com vários editores, inclusive recebeu ofertas.  Depois foi participar como convidado de um congresso sobre literatura, escutou muitas vezes a mesma coisa, que os jovens não tinha oportunidade, era muito difícil alguém entrar.

Essa era sua especialidade.

Um dia andando no centro da cidade, com o João, viu uma coisa que pensou que nem existia mais, uma livraria de sebo.  Livros velhos, foi selecionando o que queria, coisas que nunca tinha lido.  Ficou conversando com o dono do lugar, pois este pensava em fechar em breve, o pessoal não lê, o proprietário vai dividir o local em dois.   Nisso chegava o proprietário, por sinal conhecido do João, conversou com ele, o outro local, será uma parte desse, mais a parte de cima.   Foram olhar, ele ficou imaginando como podia ser, uma pequena editora, com uma livraria pequena, moderna embaixo.

Nesses dias seguintes, passou o tempo todo na casa de sua avô, pensou muito na vida, valia a pena tentar, conversou com os Orixás, todos disseram que daria certo, ela sorria.

Foi lhe ensinando o Yoruba, embora era a língua que ele falava com os amigos da árvore, estava dentro dele enraizado tudo isso.  Era só como um desabrochar.

Tomou a decisão, pediu para o João para marcar um encontro com o homem, esse disse que sentia muito, como não tinha falado nada, tinha alugado já.  Mas falou de um outro local que tinha em Ipanema, era menor, mas muito jeitoso.

Foi dar uma olhada, era um dos poucos edifícios antigos, precisava de uma reforma, tinha muito comercio por perto, era uma loja estreita, bem como o andar de cima que era um apartamento, disse o preço que queria, ele fez as contas, achava o local, interessante.  Disse se o senhor espera, vou pedir para o João que conhece todo mundo se pode me ajudar.

Ele foi franco, meu filho, ter você por perto é ótimo, me lembro do meu filho, como te considero como tal.   Arrumou uma empresa, que olharam tudo, iriam troca encanamento, toda a fiação elétrica, lhe deram dois meses de prazo.   Era o tempo de ir a NYC, fechar o apartamento, pedir demissão da empresa, enfim, mudar sua vida.

Separou as coisas do José que não tinha tocado ainda, coisas que sabia que o João ia adorar ter com ele. As suas coisas, se tratavam de livros, textos dele mesmo, para trabalhar, bem como ideias anotadas ao longo dos anos.

Preparou tudo, conseguiu um transporte, iria demorar para chegar, mas não importava, na empresa fizeram uma festa de despedida para ele.  Por um acaso se topou com o Osiris, esse agradeceu, seu livro era um sucesso.  Contou que ia para o Brasil, ia abrir uma pequena editora aberta a jovens escritores, bem como uma pequena livraria.

Este lhe abraçou desejando sorte, me mande seu endereço, quem sabe um dia apareço.

Foi embora, o apartamento de cima, não era grande, montou uma sala para trabalhar, bem como receber as pessoas, o apartamento tinha dois banheiros, um ele reservou para ele, colocou uma porta no corredor, assim separava o seu apartamento do resto.

Quando ficou pronto, começou a trabalhar, foi a sebo, comprou todos os livros que viu interessantes, na placa em cima da porta colocou, Editor Alvarenga Smith, edição de livros, livraria.

Sua editora de NYC, lhe tinha dado uma quantidade de títulos, aos quais tinha propriedade literária, para poder traduzir, editar no Brasil.

Partiu disso, ele conseguiu através de um editor que tinha conhecido, uma boa tradutora, lhe deu os livros, para ela começar a trabalhar, depois ele revisava.   A livraria apesar de pequena era confortável, num canto colocou duas poltronas antigas, daquelas que se olha, pensa em seguida, que conforto, no balcão tinha uma parte em que ele podia trabalhar.

A principio queria ficar sozinho, recebeu títulos em inglês de sua antiga editora, que sabiam que faziam sucesso, alguns que ele mesmo tinha feito a edição.

Comprou uns poucos moveis, nunca tinha gostado de casas cheias de coisas.

A inauguração foi uma coisa, simples, trouxe sua avô antes para olhar e bendizer o local, nada mais, nesse dia mostrou aos dois como ia viver, trabalhar.

Vai dar tudo certo meu filho. Ele agora ia nos finais de semana para Pilares, ficava recolhido, aprendeu a jogar os búzios com os Orixás, pois sua avó dizia que se ele podia escutar os mesmo, nem precisava de muita coisa, que o mais importante era sua intuição.

Ao princípio muita gente entrava para olhar, ele explicava que com o tempo teria novos escritores, pois pensava em seguir seu trabalho, mostrava os livros que tinha feito ele o trabalho, um dia conversou com uma mulher muito interessada, ela lhe perguntou se podia fazer uma reportagem com ele, assim ajudava a divulgar, selecionou com ela dois títulos pelo que ela tinha dito, que gostaria de ler.

Deu a entrevista para ela, tinha um programa de televisão, vieram filmar uma outra entrevista na própria livraria, falou do livro que tinha escrito, dos jovens que tinha lançado, inclusive comentou do último, que tinha na livraria o do Osiris Dutra, um jovem americano, mas de pai brasileiro, mãe portuguesa.

Estava aberto que os jovens mandassem trabalho.

Um dia estava ali, trabalhando, um senhor com os cabelos imensos prateados, muito queimado do sol, se apresentou, Humberto Costa, vi tua entrevista, mas não sei se posso me classificar no que disseste, pois não sou jovem.  Acabo de me aposentar, meu sonho era, ficar fazendo surf, mas me sobram horas, comecei a escrever, gostaria dentro do possível que o senhor olhasse alguns textos que tenho.  Tinha agora um garoto que ficava na livraria para ele poder atender alguém.  Subiu com o senhor, teve um bate papo com ele, no final lhe disse, me traz o texto, explicou como trabalhava, olharei o mesmo, numa caderneta a parte faço as anotações do que vou encontrando, mas tenho que arrumar alguém que faça as correções em português, pois vivi muitos anos fora, não sei gramática.

Nisso eu posso ajudar, fui professor de português a vida inteira, daí minha ideia de escrever.

Marcaram para o dia seguinte que ele trouxesse o texto.

Tinha pensado em colocar uma banca do lado de fora da livraria, mas seus vizinhos disseram que nem pensar, vão roubar, ele não podia acreditar.

Quando comentou isso com o Humberto, esse disse que realmente podia acontecer.

Leu seu texto de uma vez só, era interessante, a vida de um homem, que viveu sempre voltado para si mesmo, seus livros, para seus momentos de prazer, fazendo surf, sem ter que ter conversas superficiais, mas que agora esbarrava que não encaixava em muitos lugares, o texto era excelente, inclusive, falava de suas experiências sexuais falidas, o aprender a conviver com a solidão.

Tinha pensado para as edições suas, um logo, uma marca em que se cruzava new/novo.

Conseguiu como sempre através do João um jovem para fazer a programação visual do livro, lhe explicou o que queria, lá foi com o João, buscar uma gráfica que fizesse esse tipo de trabalho, seu conhecido editor que já tinha ido duas vezes a livraria, comprar livros americanos, lhe recomendou uma, disse que eles sempre lhe atendiam, quando a gráfica que usava estava cheia demais de trabalho.

Realmente o sujeito o atendeu bem, soltou eu te conheço, te vi na quadra da Caprichosos, nunca pude esquecer tua cara, com esses cabelos vermelhos, essas sardas.  Conhecia também sua avó, seu tio.

Claro, você me diz o que quer, posso te atender.

Não quero a princípio uma grande edição, quero começar trabalhando pequeno, tenho que conseguir alguém para distribuir os livros.

Quando o mesmo ficou pronto, entrou em contato com a jornalista, que fez uma matéria sobre o livro, entrevistando o Humberto.  Depois no seu programa convidou os dois.

Logo algumas livrarias se interessaram no título.  Começaram a chegar mais textos, ele fazia como sempre, lia, se lhe interessava, chamava a pessoa, senão, como lhe faltava uma secretária para fazer isso, ele mesmo escrevia a pessoa, que devia fazer um curso de escritura, para poder se expressar melhor, se quisesse também podia marcar uma hora para conversar com ele.

João se interessou, em ir pelas livrarias, levando livros para divulgar, oferecia o livro do Humberto, bem como livros em inglês, como tinha essa facilidade em se comunicar com as pessoas, dava certo.   Me salvaste dizia, estava de saco cheio da minha vida, fui salvo por ti.

As vezes almoçavam os dois, sem querer falavam no José, conseguiu que mandassem o seu livro.

Agora tinha seu tempo ocupado, um sábado que estava ali na porta, colocou uma banca com livros.  Ficou quieto, chegou um garoto, foi olhando, um a um, de alguns títulos ria, outros abria para ver o que era o assunto. Abriu tranquilamente a mochila, enfiando os livros, não tinha visto que ele estava ali. Se aproximou, lhe segurou pelo cotovelo, o senhor quer me acompanhar dentro para pagar.  O garoto que era negro, ficou branco.

Não tenho dinheiro, mas gosto muito de ler. Mas nunca tenho dinheiro, se posso roubar um ou dois, fico contente, pois sou capaz de ler e reler os mesmos muitas vezes.

Ficou olhando para o mesmo, perguntou se estudava.  Sim mas a escola é fraca, me aborreço, sempre tiro as melhores notas, vivo com minha avó, meus pais sumiram no mundo.

O fez entrar, disse ao rapaz que ficava no caixa, que ia subir com esse jovem.

Tinha achado interessante, pois ele tinha escolhido títulos em inglês, lhe perguntou se sabia ler em inglês.    Procuro ler o máximo, riu quando ele disse, que passava por esses hotéis internacionais, que sempre tinha jornais antigos em inglês, o tirava do lixo, os levava para casa, para estudar.  Procuro fazer a tradução.

Ele pegou seu livro que estava ali, leve este, me traz a tradução, se o fizer bem te pago o que mesmo que pago a uma tradutora.

Não vais me denunciar?

Não, pois se gostas de ler, já verei se posso te aproveitar.  Quando quiseres livro, me dizes, tenho muitos, eu era editor numa grande empresa em NYC, agora estou lançando livros aqui.

Sentiu que falava com o garoto, como seu pai falava com ele.

Sim senhor, posso trazer alguma coisa que escrevi, as vezes por exercícios, quando as ideias são boas, escrevo um conto.

Claro estou aqui para isso, em momento algum, abriu a mochila para tirar os livros que ele tinha guardado, foi ele mesmo que tirou, dizendo se ganho dinheiro com o senhor, poderei comprar.

Lhe deu um dinheiro adiantado pelo trabalho, o sorriso do garoto era imenso. Estendeu a mão, dizendo seu nome, eu vivo aqui na favela, meu nome é Antenor da Silva, como todos os brasileiros que não têm eira nem beira.

Riu muito com ele, na segunda-feira apareceu com uma parte do livro traduzida, vinha com um papel na mão, me esbarrei nessas duas frases que não fazem sentido ao serem traduzidas.

Tirou da mochila, o texto que tinha escrito, está a mão, porque não tenho outra maneira de escrever.   Subiram, ele foi até a parte que era sua, trouxe uma máquina de escrever, uma relíquia, disse que tinha sido do seu pai, um dia te conto minha história.

Experimenta usar, vê se consegue.   Nisso chegava o João, se via que tomava de amores pelo garoto. Os apresentou, João divulga os livros que vou produzindo.

Conte tua história para o João, é super boa gente.  Este lhe perguntou se sabia usar um laptop, disse que sim tinha aprendido na escola. 

Pois eu tenho um, amanhã deixo aqui para ti, assim tens como escrever.

O sorriso do garoto era imenso, iam almoçar, lhe perguntou se queria ir com eles?

Não avisei minha avó, ela tem um celular velho, mas eu não tenho, só sei o número. 

Use o meu, disse o João.

Foi todo contente, o rapaz da livraria, torceu o nariz, como dizendo o que faz esse negrinho aqui.

Não gostou muito do comportamento dele, já tinha visto fazer isso quando entrava algum negro na livraria.

Comeram conversando, na volta uma surpresa, encontrou a livraria fechada, a chave estava com a vizinha, seu garoto se mandou, diz que prefere fazer surf a ficar aqui.  Depois passa para acertar o que o senhor deve para ele.

Se o senhor quiser, posso atender, quando não tenha movimento, vou fazendo a tradução.

Ele começou a ler o texto do Antenor, lhe disse que qualquer problema o chamasse, ele desceria.  Da sua mesa, tinha uma central ligada a câmera de vídeo, viu como ele era educado atendendo as pessoas.

Ao final da tarde, apareceu uma senhora, ele desceu, entendeu que era a avó dele, preocupada, se apresentou a senhora, desculpa pensei que ele tivesse avisado.

Sim me disse que ia almoçar com o senhor, mas não que ia ficar trabalhando.

Está de férias, não quero que se meta em confusão, pois podem me tirar a guarda dele.

Tinha ainda dois meses de férias, o contratou, depois já se veria, se ele se saísse bem, poderia trabalhar na parte da tarde. 

Ele se virou para avó dizendo que tinha atendido dois senhores, ingleses que se esqueceram de trazer livros para lerem na praia, conversei com eles em inglês me sai bem pois me elogiaram.

Convidou a senhora para tomar um café ou um refrigerante ali ao lado, assim aproveitou para conversar com ela.  A senhora se parece com minha avó, eu só a recuperei a pouco tempo.

Perguntou o que ela fazia?

Eu limpo casas por aqui, para ganhar a vida, manter o barraco. Esse menino é tudo que tenho, seus pais desapareceram, o que foi melhor, pois caíram na droga.  Nem sei se estão vivos ou mortos.  Melhor mesmo é que não apareçam.

Ele é muito inteligente, os professores dizem que a escola que está é muito fraca para ele.

A senhora poderia me limpar a casa umas duas vezes por semana, assim estará ao par do que faz.

Nesse dia saiu depois de fecharem a loja, foram a um shopping, lhe comprou umas calças, camisetas, tênis, para ele trabalhar.  Se matou de rir quando ele disse, vou fazer o seguinte, guardo aqui, uso como uniforme, porque senão os garotos da favela, vão pensar que roubei, não quero dar essa impressão.  Quero explicar que no outro dia, os dois livros, eu ia levar para ler, depois devolver.

Ficaram discutindo a melhor maneira de traduzir a frase que ele não tinha entendido, quando lhe explicou o que queria dizer, que tinha a ver como uma relação sexual.  Ele riu, é que ainda sou virgem, não sei nada disso.

Nessa noite, ficou lendo seu primeiro conto. Achou incrível, ele falava do estigma de ser um filho de duas pessoas que tinha caído nas drogas.   De como as pessoas o olhava, era como ser um marciano. Tinha um linguajar muito próprio dele.  Em alguns momentos riu dos comentários que fazia.  Mas no final estava chorando, pois com tudo isso dizia, como posso sonhar com um futuro, se só me está permitido viver o dia de hoje.

Falou com o João, esse disse quero ler, deve ser interessante, o que eu gosto que ele é respeitoso.

Amanhã, levo o laptop.

Quando desceu no dia seguinte, ele estava na porta esperando para abrir.  Foi ao banheiro do local, trocou de roupa.  Ainda soltou, ontem comprei um desodorante, pois minha avó ainda usa leite de rosas, mas se transpiro fica um cheiro horrível, se eu sinto, imagino os outros.

Lhe disse, li teu primeiro conto.

A cara dele de expectativa era interessante, esperando que ele falasse alguma coisa.

Gostei demais, hoje me dedicarei a ler os outros.

Depois viu que o João chegava, lhe passava o laptop. Que ele abraçava o mesmo, este subia.

Como sempre o beijava na cabeça, como fazia com o José.

Lhe entregou o texto do Antenor, quando olhou ele chorava.

Disse que ajudaria o garoto em tudo que pudesse, eu só pude ajudar meu filho de longe.

Teriam que conversar com a avó, apresentou a Maria Neves Silva ao João, os deixou conversando na sua casa, seguiu trabalhando de vez em quando olhava o visor para saber se estava tudo bem.  Viu que ele estava de costa, falando com uma pessoa no balcão aonde estavam os livros das jovens promessas americanas.

Se distraiu outra vez, quando o escutou pelo interfone que tinha uma pessoa procurando por ele na livraria, se podia mandar subir.  Pensou que era algum autor, disse que sim, levou uma surpresa era o Osiris Dutra.

Este abriu os braços, como a montanha não vai a Maomé, este vai a montanha, não sabia nada de ti, perguntei na editora, a que foi tua secretária falou da livraria, que fazias a mesma coisa aqui, então resolvi trazer meu novo livro para que de uma olhada, mas vim só por isso, nada de segundas intenções.

Nisso saia o João com a dona Maria, essa tinha lagrimas nos olhos, os apresentou, esse é um dos meus meninos João, o apresentou, Osiris Dutra, embora americano, é filho de pai brasileiro, mãe portuguesa, veio nos visitar.

Aonde estas hospedado, emendou?

Num hotel em Copacabana, olham admirados quando apresento passaporte americano, pois o primeiro comentário é que tenho cara de brasileiro.

Se quiseres ficar aqui em casa, será um prazer.

Como foi a conversa João?

Convidei a dona Maria, bem como o Antenor, para irem morar lá em casa, assim eles tem um lugar melhor para viver, estive falando com ela, daqui um ano esse garoto precisa ir para a universidade, que eu ajudarei em tudo que for possível.

Mas eu continuo cuidado aqui da casa, seu Carlos.

Ele, riu, agora toca falar com o Antenor.  Os dois desceram, ele contou mais ou menos para o Osiris do que se tratava.

Esse menino tem talento, lhe deu a primeira história para ele ler.

O bom que amanhã é sábado, fechamos mais cedo, assim posso te levar para conhecer minha avô, depois te levo ao samba.

Quando desceram o Antenor, chorava abraçado ao João.

Bom gente, amanhã vamos comemorar isso, dona Maria, amanhã é dia de ir ver minha avô em Pilares, porque vocês não vem juntos, assim depois comemoramos no samba.

No dia seguinte dez minutos depois que tinham chegado, ele agora tinha um carro de segunda mão que guardava numa garagem do edifício ao lado, Antenor ia colocar uma roupa velha, ele disse que não, suba tome um banho, se vista com uma que não tenha usado ainda, vamos de comemoração garoto.

Se via que ele estava feliz.

Quando o João chegou, estava feliz, só disse, depois quero falar contigo.

Foram em dois carros, para não irem apertados, ele foi descrevendo para o Osiris, por aonde iam.
Perguntei ao meu pai, de onde ele era aqui no Rio, me disse que se tem família pode ser lá pros lado da Ilha do Governador. 

Iam falando em português para ele se acostumar. 

Ele comentou, eu entrei falei com o Antenor, em inglês, se ele tinha um livro de um tal Osiris Dutra, ele foi direto ao meu livro, disse que o tinha lido, que gostava muito, ainda me soltou a conversa de vendedor, uma das jovens promessas da literatura americana, espero um dia ser como ele.

Quase o abracei, dizendo eu sou Osiris Dutra, mas aí ia estragar a surpresa.

Estou super feliz de estares aqui.

Obrigado, se achas que não incomodar fico em tua casa.

Imagina, será um prazer, sabes o quanto gosto de conversar contigo.

Quando chegaram sua avô, que ele tinha avisado, estava junto com a Yao, arrumando uma mesa para o Lanche, de repente o Antenor tinha sumido, ele riu, mostrou aonde ele estava, parado na frente do Iroco.   Num dado momento, ele abria os braços como se fosse abraçar alguém.

A dona Maria começou a chorar, ele está abraçando meu marido, que o cuidou muito de pequeno.

Saíram todos, o Osiris, ria, eu sonhei muitas vezes com essa gente toda.

Mais um que vê tudo que a senhora tem aqui minha avó.

Ele foi render sua homenagem ao Exu, este disse, estou trazendo para perto de ti, todas as pessoas que te amam de verdade, não te quero sozinho.

Viu sua avó numa larga conversa com dona Maria, esta só balançava a cabeça.

Antenor, estava sentado num banco, conversando com alguém do Iroco, de vez em quando ria.

Osiris, lhe perguntou se ele jogava os búzios.

Sim por quê?

Pergunte a eles o que eu vim fazer aqui na verdade?

Eu não preciso, Osiris, já sei que vieste por minha causa, nunca me esqueci de ti, inclusive divulguei teu livro aqui.

Obrigado, então sabes que vim, por que não posso te tirar da minha cabeça verdade?

Sim eu sei, mas teremos tempo para nos acertarmos, fico contente de tua vinda, quando nos conhecemos, foi num momento difícil, tiveste paciência, estiveste ao meu lado, nunca esquecerei isso.

Mandou a Yao, preparar um banho para ele, outro para o Antenor.

Quando ele veio se sentar na frente dele, lhe disse, Antenor, mandei preparar um banho para ti, pelo visto hoje não vamos ao samba.

Não importa, porque não sou muito disso, dizem que sou doente do pé, pois não sei sambar.

Bom, vejo que estas feliz?

Sim, o interessante, é que a muito tempo sonho com esse senhor negro, ele sempre me dizia, não se preocupe vai dar tudo certo, vais conhecer a pessoa que movera tua vida.

Resulta que era o senhor.

Antenor, deixa de me chamar de senhor, não gosto muito disso. Para ti eu sou Carlos.

A Yao, disse que já tinha o banho preparado, depois veio correndo, ele incorporou, mal coloquei a primeira caneca com o banho nas suas costas.

Era interessante ver aquele garoto completamente nu, saudando seus irmãos no Iroco, ele se aproximou se identificou.

Eu sei quem eres, vais ajudar meu garoto, verdade, eu sou amigo do teu Exu, ele disse que posso confiar em ti.

O exu, abraçou dona Maria, falou alguma coisa no ouvido dela, ela desatou a chorar ele a consolando.   Ele já sabia o que era, os pais dele, tinham morrido já faz tempo, enterrados como indigentes, pois não tinha documentação.

Avó Nena a consolou, dizia, não vamos estragar a comemoração do teu neto.

Depois a coisa ficou tranquila, ele sentou-se jogou para o Antenor, dizendo que a vida se abria na frente dele, agora devia pensar que universidade queria fazer, devia planejar seu futuro.

Disse que queria ser jornalista, escritor, amava escrever desde garoto.

Espero que tua avó me permita vir aqui sempre que possa, pois necessito desse contato com os Orixás.

Quando jogou para o Osiris, viu que realmente ele tinha vindo fazer, tinha uma pensão do exército, queria experimentar viver no Brasil com ele.   Mas realmente trazia um livro para ele ver.

Depois mais tarde foram ao samba para o Osiris ver, tinha visto por vídeos na Internet, mas como dizia, ao vivo era outra coisa.

Depois voltaram para a casa da sua avô, já era tarde, ela ao se despedir disse que sua mãe estava no Rio, sabia pelo filho, mas que com ela não tinha falado, ele só soltou filha da puta.

Uma semana depois apareceu na livraria, Antenor estava almoçando no andar de cima, dona Maria agora deixava comida pronta para eles, era só esquentar.

Ela lhe estendeu a mão como se fosse um beija mão, mas ele fingiu não ver.  Foi super profissional, perguntou se ela procurava um livro em concreto.

Perguntou se tinha algum em francês, ele lhe indicou a banca, nisso o Ernesto desceu, ela estava de costa, quando se voltou ele já não estava mais, esse disse que ele tinha saído.

A cara de quem não suporta que a contradigam era grande.

Fez uma série de perguntas ao Antenor, que ele não soube responder, só dizia, a senhora tem que fazer essas perguntas pessoalmente com o proprietário.  Se via que ia embora contrariada.

Quando ele desceu, depois de se relaxar, Ernesto lhe perguntou quem era essa louca que saia fazendo perguntas particulares sobre você, perguntou inclusive se eu era teu namorado.

Essa é minha mãe, mas não se desculpe, ela é louca mesmo.  Contou a ele, que nunca tinha cuidado dele, primeiro sua avó, depois me mandou para os Estados Unidos, para viver com meu pai, que nem sabia que eu existia.   Graças a Deus, me amou, me educou, me protegeu até morrer.

Ela ao contrário, se quando vim da primeira vez não a tivesse visto na casa de minha avó, se cruzasse com ela na rua, ia dizer que mulata besta.

As coisas são assim na vida meu amigo Antenor, temos que lutar para seguir em frente, gosto de ti por isso, eres um batalhador.

Você gosta do Osiris?

Sim, eu o lancei no mercado, num momento difícil na minha vida particular, ele ao contrário saia de um turbilhão, se você leu o livro entendeu o que passou.

Mas não temos nada, hoje ele vai trazer seu texto novo, para que eu dê uma olhada.  Mas creio que a vida dele é lá.  Mas isso ainda vamos ver.

Ah o seu Humberto Costa, telefonou marcando uma hora para amanhã, tem um texto novo, o livro dele tem vendido bem.  Outro dia o Jornal do Brasil, fez uma matéria com ele, no dia seguinte tinha muita gente aqui comprando o livro. Não sei se o senhor vai pedir mais, pois só temos um.

Fale com o João, para ver se alguma livraria tem de sobra, ou então pedimos mais uma edição.

Quando o Osiris chegou com sua bagagem, era pequena, lhe entregou primeiro o texto, disse que ele podia dormir no sofá da sala, já tinha deixado roupa de cama ao lado.

Me deixe pelo menos ler um capitulo.

Era interessante, começava falado das coisas que aconteciam quando uma pessoa se torna conhecida, pelas entrevistas, pelos jornais, os que lhe pedem autografo num livro, mas notas que continuas sozinho, essa sensação de vazio, isso o faz ir a sua infância, pois com a ausência dos pais que estão sempre trabalhando, sente sempre essa sensação, que está sozinho, mesmo durante o período que está no exército, fala de estar cercado de muita gente, mas que continuas só, do medo de se acostumar na solidão.

Ele como experiência tinha escrito em português, quando levantou a vista do texto, ele estava sentado na sua frente.

Bom, muito interessante o assunto, acredito que muita gente se sente assim.

Te sentes só tu também.

Na verdade não Osiris, se leste meu livro, me sentia só com relação ao amor, até que conheci o José, ele foi meu grande amor. Me completou, foi amigo, companheiro, não só de cama, mas como de ideias.  Acredito mesmo que se estivesse vivo, estaria aqui.

Sentes falta dele?

Claro que sim, mas estou sempre tão ocupado, que nem me sobra tempo as vezes.  Procuro dar atenção a todos que me cercam, tenho certas obrigações com relação ao que faço.

Por exemplo amanhã vem trazer seu novo texto, ao que foi meu primeiro escritor aqui, não é jovem, mas era o primeiro livro dele.  Ele sempre viveu para si mesmo, aprendeu a conviver com a solidão por não encaixar com as outras pessoas.  Tem uma cabeça fantástica, vais gostar dele.

No dia seguinte quando o Humberto Costa chegou apresentou os dois, viu que o Osiris demonstrava um certo ciúmes, pois não estava acostumado ao hábito das pessoas chegarem se beijarem.

Já o Humberto parecia enfeitiçado, estava encantado com o outro.

Entregou o texto, ficaram falando, João tinha avisado que realmente o livro estava esgotado nas livrarias que ele tinha vendido.

Temos que fazer uma edição menor, por se vamos editar esse, queres o mesmo tipo de contrato?

Sim, com esse fomos bem, foste super honesto nas contas comigo, fico tranquilo, comentou quem faz essa parte é o João, pai do homem que amei na minha vida, o José Aparício.

Agora esta cuidado da vida do rapaz da livraria, que estou acabando de revisar o livro, embora ele seja um crânio, gostaria que revisas se a parte de ortografia, como já fizeste antes para mim.

Tai Osiris, quando acabe de ler teu texto, quero passar ao Humberto, pois ele foi professor de português, ele sempre revisa os textos em termos de gramática.

Osiris concordou, contou rapidamente sua história.

Ah já sei, li teu livro, o Carlos me emprestou o livro, achei super interessante.  É um assunto que a juventude daqui nem passa por perto, estão cada vez mais superficiais.  Adoraria comentar contigo algumas coisas do livro.

Porque os dois não vão almoçar juntos, assim podem falar à vontade.   Sem querer estava empurrando o Osiris para o Humberto.      Sabia que gostava do Osiris, mas não o amava, era isso que ele necessitava, sair de seu casulo.  Sabia que ele não estava em seu futuro, já tinha visto isso quando o Exu falou com ele.

Seguiu fazendo uma coisa que gostava de fazer, ler um capitulo depois anotar, passar para outro livro, como criando uma distância.   Só quando relia totalmente o texto, era quando tinha acabado de revisar tudo.

Tinha acabado o do Antenor, ia entregar ao Humberto, desceu para falar com ele, para que consentisse que desse uma olhada no livro em termos de gramática.

Deu de cara com sua mãe, que estava ali outra vez.  Disse a ela que o esperasse no café ao lado, que já iria tinha que resolver uma coisa antes.

Falou com o Antenor, explicou o fato do Humberto, fazer as correções ortográficas, sabes que não tenho conhecimento suficiente do português para isso.

Embora eu tenha tido todo cuidado do mundo, as vezes a emoção confunde a cabeça da gente. Claro, deixa aqui o envelope, se for o caso, que eles cheguem antes do senhor, eu entrego.

Foi se sentar com a mãe.  Ela estava rígida na cadeira, tinha vontade de lhe dizer que se relaxasse.

Perguntou o que queria diretamente, pois era a segunda vez que o procurava.

Queria falar contigo, preciso te conhecer, para saber quem eres.

Ele riu, não achas um pouco tarde, eu não sinto nada pela senhora, mesmo a segunda esposa de meu pai, foi mais minha mãe que a senhora.

Queria te convidar para um jantar na minha casa, pode ser interessante para ti, tenho amigos editores de livros aqui, em vez de fazer como o fazes pode fazê-lo em grande.

Sinto mas me interessa justamente fazer à minha maneira, ela tinha citado os nomes, ele disse que já os conhecia, um deles com quem se falava sempre, trocando ideias, o tinha convidado para trabalhar.

Veja, não preciso de dinheiro, tenho o suficiente para seguir em frente, depois o salário que ele oferece é uma miséria, nem pensar.  Prefiro minha liberdade.

Eu só queria ajudar, nada mais, além de poder te apresentar pessoas importantes da sociedade daqui, que podem ter serem úteis.

Talvez para tua próxima temporada.   No momento não, uma pergunta particular, a senhora já foi visitar tua mãe?

Não, ainda não.

Porque eres tão filha da puta, porque não apresenta tua mãe negra aos teus amigos, tenho certeza de que se encantaram com ela.  É uma mulher inteligente, sabe se comportar, conversar sobre qualquer assunto.

Bom já nos falamos, abriu uma bolsa Chanel, entregou um cartão pessoal, com seu número de celular, frisou que só se levantava depois da uma da tarde.

Ia pagar a conta, mas ele o fez, ela estendeu a mão, mas ele como sempre fez que não viu.

Que porra de mãe era essa que estende a mão para seu filho, como se fosse um belo desconhecido, começou a rir, não podia parar.

O que foi perguntou ela?

Ele respondeu, mas da maneira que tinha pensado, que porra de mãe é essa?

Ela ficou totalmente sem graça, foi embora.

Ligou para a Yao, pois só ela tinha um celular, esta passou para sua avó, comentou o que tinha acontecido, o que lhe tinha dito.

Ela se matou de rir, você é pior do que eu, eu engulo os sapos, mas tu falas.

Teu tio apareceu aqui hoje, vai se divorciar, pois tem outra mulher, a americana, quer que o filho vá com ela, ele não quer.  A merda é que teu tio, prefere que o filho vá com sua mulher para começar uma nova vida.

Ele tinha o telefone do restaurante.   Ligou para lá, perguntou pelo primo.

Este atendeu o telefone, ele se identificou, sei que estás num mal momento, se quiseres falar com alguém, lhe deu endereço, podes vir falar comigo.

Ele agradeceu, pensei em ir conversar com nossa avó, mas acho que essas merdas da família, são demais para ela.

Pois foi ela quem me comentou, estou ao teu dispor.

Ah, soube que o rapaz que te acompanhava da outra vez morreu, sinto muito, deve ser uma merda perder alguém.

Era a primeira pessoa além de sua avó que falava com ele do José. Sua mãe, nem tinha perguntado como ele ia nada disso, seu tio tampouco tinha falado com ele esse tempo todo.

Te espero.  Cuide-se, mas só te lembres de uma coisa, a vida deles é deles, tens que pensar na tua.

Voltou para a livraria, estavam os três conversando, brincando soltou, o gato sai, as ratazanas fazem as festa, viu que os dois se davam bem.

Osiris disse que ia a praia com o Humberto.  Subiu para trocar de roupa.

Humberto se afastou com ele, perguntando se os dois tinham alguma coisa.

Não, sou seu editor, amigo, nada mais.

Ah, fez o Humberto.

Quando ficou sozinho com o Antenor, este soltou, era um puto observador, assim fazes com teus romances, se livra empurrando para outra pessoa.

Primeiro Antenor, o Osiris não tem nada de romance comigo, nem eu com ele, se te interessa saber nunca fiz sexo com ele, aliás desde a morte do José, nunca fiz sexo com ninguém. Ok.

Desculpe, fui intrometido.

Que tal a conversa com tua mãe?

Difícil como sempre, creio que fui educado de uma maneira, que fica difícil entender a cabeça dela, essa vergonha que tem de sua mãe, de querer esconder o passado.

Meu pai dizia, que temos como umas caixas que vamos guardando as coisas, num dado momento de nossa vida, essas caixas como que explodem, atirando todos o que escondemos, no chão, aí tens que recolher tudo, digerir isso, para poder seguir em frente.

Sabe minha avó me contou que os orixás disseram que meus pais foram enterrados como indigentes, por não terem documentos.  O João está sendo o pai que nunca tive, disse que ia tentar encontrar aonde estão, para lhes dar um tumulo direito.

Já conversei com ele a respeito, me disse que não devo ter vergonha disso, que a vida é assim, me contou sua vida, a separação do filho, o quanto lhe doía isso, o dia que apareceu aqui contigo, que ele tinha mais um filho.   A perda do filho, mas que tu, esta como o outro filho dele.

Vê, como é, as vezes é assim.

Eu fui imensamente feliz com meu pai, imagina eu morto de medo, uma criança de 3 anos de idade, mas quando o vi, ele era igual a mim, cheio de sardas, cabelos vermelhos, mais vermelhos do que os meus, me levantou no alto, ficou olhando para minha cara, comecei a rir, tinha encontrado um porto seguro.

Como o que eu encontrei aqui contigo, com o João, até minha avó está mais relaxada.

Já reparou que agora ela vai ao cabelereiro, ele me tomou sobre as suas asas, as vezes brinco com ele que é mais galinha que minha avó.

Entreguei o texto para o Humberto, espero que ele goste.

Ele pode ser surfista, mas foi professor, é uma pessoa especial, vais ver como gosta.

Nisso entrava uma jovem que estava a um tempo olhando pela vitrine, era negra, com um cabelo Black Power.

Perguntou pelo editor, ele se apresentou.  Ela estendeu a mão, com um sorriso imenso, sou uma tonta, se o vi na televisão, estava do lado de fora tomando coragem para entrar, pois as duas editoras que apresentei meu texto, nem passei da secretária.   Uma pensou que eu inclusive vinha pelo trabalho de copeira.

Joana Dutra, podemos falar.

Antenor, qualquer coisa estou no escritório.

Subiram, o que me fez tomar a decisão de entrar, foi ver como o senhor tratava o rapaz, sem problema nenhum.

Ele riu, não se preocupe, minha avó que amo muito, é negra, minha mãe mulata, meu pai sim era branco, americano, cheio de sardas como eu, com os cabelos mais vermelhos, os meus só ficam iguais ao seu, se vou muito a praia.

Eu li os livros que o senhor editou.

Ele corrigiu, podes me chamar de Humberto, quando duas pessoas podem virem a trabalhar juntas o melhor é retirar os formalismo do meio.

Ela sorriu timidamente.

Me fale de ti Joana.

Sou formada em filologia, trabalho de professora, amo os livros, trabalho com crianças com síndrome de Down, tenho vários textos, mas este é o que acho mais completo.

Gosto muito do primeiro, que saiu numa explosão minha. Trouxe os dois, assim você pode ler.

Ele comentou como trabalhava, a porcentagem que ganhava, o trabalho que fazia.

Agora estou em finalização de edição do livro do rapaz que trabalha na livraria.

Estou lendo um texto que um amigo me trouxe dos Estados Unidos, tenho o novo do Humberto Costa, em seguida leio os teus.  Não se preocupe porque sou rápido.

Trocaram cartões com os números de celular.   A acompanhou até a porta, viu o sorriso que dava para o Antenor.

João passou para falar com ele, pois tinha mais dois livros esgotados, como iam fazer, pois as livrarias estavam pedindo mais.  Descobri que estão anunciando em suas páginas de internet, o que lhes dá um bom lucro, creio que devias fazer o mesmo.

Buscar alguém que crie uma página para ti.

Isso farei mais a frente, imagina, tenho agora o texto do Osiris, do Humberto Costa, dois dessa garota com quem acabaste de cruzar.

Tenho que me dedicar mais horas com isso, menos mal que tenho o Antenor na loja, tu se encarregando das vendas, enfim, temos que ir tocando, essas livrarias que têm esse sistema são grandes, mas ainda não estou maduro para isso.

Sempre com os pés no chão, subiram para ver as contas, comentou com o João sobre o encontro com tua mãe.

Outro dia me passou o mesmo, a mãe do José me telefonou, imagina depois de todos esses anos sem falar comigo, me disse que se sentia perdida, o filho a muito tinha escapado dela, indo viver contigo, nunca gostou da ideia dele fazer jornalismo.

Agora não sabe o que fazer de sua vida, está aposentada, sem ter o que fazer.

Muito ao final, perguntou como eu ia, sem falar nenhuma mentira, disse que tinha uma nova família, escolhida por mim, mas não entrei em detalhes.

Ela amargou muito minha vida, mas tampouco vou ficar fazendo acusações, eu devia ter percebido que ela no fundo tinha vergonha de ter um relacionamento com um simples funcionário, nem sei afinal por que teve um romance comigo. Me deu um filho maravilhoso isso sim, mas que perdemos os dois.

Como vão as coisas como Osiris. 

Riu, contou para ele, o Antenor diz que eu empurrei o embrulho para a frente.  Mas a verdade João é que não esqueci totalmente o José, nem posso, ele foi o melhor da minha vida.  Não vou ficar enganando ninguém dizendo que amo, quando não é verdade.

Estas certo, conte sempre comigo, eres como outro filho que tenho, sabes disso.

Depois ficou lendo por curiosidade o texto do Osiris, foi anotando coisas, para depois passar para ele.

Pegou o primeiro livro da Joana, ficou como que enfeitiçado, quando viu já estava na última página, nem tinha levantado a cabeça, quando olhou no monitor, Osiris com Humberto estavam conversando com o Antenor.

Desceu, desculpem mas fiquei enfeitiçado com um livro.

Viu que Osiris estava já vestido, subi, te vi mergulhado no livro no quis incomodar.  Estávamos te esperando para ir jantar.

Ia tirar o corpo fora, mas resolveu ir, assim enfrentaria mais uma situação, eles tinham convidado o Antenor também.

Foram a um dos bares da Farme de Amoedo, ficaram conversando, Osiris dizendo que tinha ficado apaixonado pela praia, Humberto se dispôs a me ensinar a fazer surf.

Inclusive o convidei para ficar na minha casa, mas tem medo a te ofender, pois ofereceste a tua.

Nada disso, faça como achar melhor, eu estou sempre trabalhando.

Humberto disse que já tinha lido o primeiro capítulo do livro do Antenor, não encontrei nenhum erro, hoje de noite leio o resto.

Se puderes vir amanhã Osiris, já sabes como sou, fiz algumas anotações do teu livro.

A conversa caiu sobre escritores que o Humberto gostava, americanos, viu que o Antenor, ia anotando, ele riu, não se preocupe te empresto, assim podes ler, depois comentamos.

A velada foi ótima, quando chegaram de novo em casa, Osiris pegou suas coisas, olhou sério para ele, entendi, entre nós a coisa fica impossível.  Com o Humberto, sinto uma atração diferente quero experimentar, se não der certo tudo bem.

Eu odiaria ir para a cama contigo, sabendo que espera algo mais, ainda não estou pronto para dizer a ninguém que o amo.  A ferida ainda está aberta, com o trabalho vai sanando, mas dói demais.

Os ficou vendo caminhar juntos, viu que entre eles nasceria um vínculo forte.

Ficou até tarde lendo o segundo livro da Joana, não era tão forte como o primeiro, foi anotando o que poderia tornar o livro tão bom como o primeiro.

Ela tinha um poder, que parecia enfeitiçar ao ler.

O primeiro falava dos jovens que procuram na política, uma maneira de se encaixarem na sociedade, principalmente sendo negros, o pior é descobrir toda uma manobra que está por detrás disso, que na verdade nada é o que se diz, o que se proclama aos quatro ventos.   Mas o pior é o depois, a desconfiança, o desprezo que sofre dos amigos, por não concordar com as ideias.

Era um tema super atual, o segundo era mais a luta diária com o sistema, pelo rechaço aos portadores de síndrome de Dow, as perguntas difíceis de responder, aos mesmo, que porque a sociedade não quer nada com eles.

O envolvimento nos problema dos mesmos, a dificuldade das famílias, para que os próprio parente aceite a criança, não as tratando como uns coitados.  A preocupação dos pais, o que acontecerá com meu filho, se morro.

Gostava dos dois, embora no segundo, em alguns momentos faltasse força do primeiro.

Despertou deitado em cima da mesa, com os papeis espalhados, era o celular.  

Antenor preocupado com porque a porta estava fechada, se tinha acontecido alguma coisa com ele.

Tens que ter uma chave para abrir a loja.

Que tal o livro da Joana, lhe passou o primeiro que ele lesse, queria sua opinião, o via inteligente demais, para não ter uma ideia do assunto.

Acabou as anotações do segundo com uma caneca de café na mão, só depois então foi tomar banho.

Falou com sua avó logo de manhã, disse que sua mãe tinha ido, que tinha reclamado dele, minha resposta foi “quem planta vento, colhe tempestade”.

Comentou com ela, o que tinha lhe falado, sobre o aperto de mão.

Essa nunca tomará jeito, diz que você deveria estar trabalhando para uma grande editora, não ter a sua.

Sim me disse isso, inclusive queria me colocar em contato com uma, que quis me contratar, mas o salário é uma merda, tenho minha herança, que ainda nem toquei, não sei se é isso que quer saber.

Avisou que iria para sua casa no final de semana, falou do primo, mas que esse não tinha feito contato.

Em seguida telefonou para a Joana, marcaram quando ela saísse da escola, dava uma passada por lá.

Seguiu trabalhando, para ele era muito importante isso, estar concentrado, se esquecia do mundo.

De tarde o Humberto veio com o Osiris, trazia o texto do Antenor, o elogiou, o único era que tinha encontrado, se devia ao novo acordo da língua Portuguesa, que só os mais jovens aprendiam.

Passou para o Osiris, o texto já com o caderno de anotações do lado, em seguida pegarei o teu Humberto.

Perguntou ao Osiris se ele pensava em editar nos Estados Unidos, toca a escrever com o que marquei para mandar para lá.

Falarei com eles, ou pensas ir a NYC?

Um olhou para o outro, riram, se o Humberto for comigo vou.

Esse riu soltou, tenho que tirar o passaporte, comprar dólares, é o tempo de fazeres a correção.

No final de semana foi para a casa da avó, Antenor, disse que subia no sábado no final do dia com o João, além de sua mãe.

Era sexta-feira, fazia um calor infernal, sua avó lhe disse que tinha uma senhora que queria falar com ele.  Se preparou a consciência, tomou um bom banho de descarrego, foi cuidar das coisas do seu exu, dos seus santos.

Quando esta, entrou na lateral da casa, levava um garoto pela mão, ele se soltou, correu para o Iroco, depois se virou para ele, soltou Baba, foi abraçar ele.

A cara da mulher era de surpresa, por sinal era dessas mulatas de fechar o comercio, um corpo de fazer inveja a muita jovem.

Ela já sabia quem era, era por ela que seu tio estava apaixonado, a Yao, trouxe uma cadeira dessas brancas, para ela se sentar, o garoto ficou colado a ele, tinha síndrome de down.

Calmamente lhe perguntou o que tinha visto na árvore, ele respondeu respirando fundo, esse povo todo.

O abraçou, inclusive sabia seu nome, muito bem Antônio.

Acho que vim no lugar certo, me falaram de ti, sei que eres neto de dona Nena.  Estou num apuro, por não saber o que fazer, tenho que tomar uma decisão, mas está difícil.

Eu imagino que sim.

Conta-me teu ponto de vista.

Primeiro eu não sabia que teu tio era casado, com filho adulto, nada disso.  Quando me falou que estava pedindo o divórcio, lhe disse para pensar, pois ele tem um patrimônio, que eu não quero interferir.

Sou viúva, tenho pensão do meu marido, que era do exército, ele era louco pelo seu filho, nunca se incomodou que ele tivesse síndrome de Down, mas ao falar com teu tio, esse não gostou muito, pensa em colocar o garoto para viver numa escola particular.  Sou contra, apesar de gostar de teu tio, não vou abandonar meu filho.

Eu tampouco abandonaria, disse sua avó da porta, é meu filho, mas te digo, nenhum dos dois que tenho vale a pena.

O garoto correu para ela, a enchendo de beijos.

Olá meu neto.

Pois fico tranquila, o conheci um dia que umas amigas me levaram ao samba, aqui em Pilares, eu sempre gostei.

Ele chamou a Yao, lhe disse que preparasse um banho para o garoto, eu mesmo dou, outro para a senhora, disse as ervas para cada um.

Ele tinha seu jogo a pouco tempo, com coisas particulares que tinha ido juntando ao longo do tempo.  Se concentrou, sentiu as pedras, os búzios dentro de sua mão falando, o que devia fazer antes.  Fechou os olhos, começou a cantar em Yorubá, a música que tinha em sua cabeça.

Ela imediatamente, caiu para a frente.

Ele se levantou, colocou a mão em sua cabeça, ela incorporou uma Oxum, está foi lhe falando, que tinha sido ela que a tinha feito vir aqui falar com ele.  Esse homem não vale a pena, ela leva muito tempo dedicada ao garoto, por isso se encantou que um homem lhe desse atenção, mas não sabe se gosta dele de verdade.

Não tem firmeza de cabeça, pois quando começou a frequentar um terreiro, se casou, o marido não gostava.      Teve forças para seguir em frente, é uma mulher batalhadora.

Ele colocou a mão na cabeça dela, a Oxum se despediu agradecendo, pois sabia que ele faria o melhor.

Sua avô, junto com a Yao, a levaram para tomar seu banho, ele levou o Antonio, ria muito ele, mas lhe disse, agora feche os olhos, pense no que queres mais na vida.   O menino obedeceu.

Queria estudar, ser alguém.   Ele o ajudaria.

Lhe deu uma toalha disse como devia se secar.

Depois se sentaram outra vez.  Ele deixou o Exu falar por sua boca, disse a ela, tens uma tarefa difícil, deixe meu garoto te ajudar.  Ele sabe o que quer seu filho.  É um largo e duro caminho, pois teu filho quer estudar, ser alguém na vida.   Ele fará todo que for possível.

Depois ficaram na cozinha, ele perguntou se ele ia a uma escola, para os que tinham síndrome de Down.   Ela disse que não, o tinha ensinado a falar ela, bem como ler, escrever.

Ele claro não gosta de brincar com jogos nada disso, gosta de livros.   Às vezes eu estou lendo um livro, o tira da minhas mãos, lê um pedaço, diz que está fora da realidade, pois eu gosto de ler romances.

Lhe contou que tinha agora entre mãos, uma jovem escritora, que era professora justamente numa escola, gostaria que conversasses com ela.

Abriu seu celular, falou com a Joana, está lhe perguntou aonde estava, ele deu a direção, ela riu, estou perto, pedirei um Uber, vou até aí, quero conhecer esse teu outro lado.

Vais gostar é uma jovem brilhante.

Quando Joana chegou, foi como uma festa, a deixou conversando com o Antônio, que estava encantado com ela, enquanto isso ficou conversando com Lourdes, essa basicamente contou a vida dela para ele, embora soubesse, escutou.

Lá pelas tantas escutaram alguém dizendo, o que faz esse garoto aqui.  Porra era seu tio, imediatamente entendeu, o tinham feito vir para nesse momento Lourdes estar protegida dele.

Ficou uma fera, como ela fazia isso pelas costas dele, se ele quisesse que conhecesse sua família a tinha trazido ali.

A primeira coisa que fez Carlos, foi abaixar sua crista de galo, dizendo ao ouvido dele, cuidado que conto teus segredos, o olhou desconfiado, foi abaixando a voz.

Primeiro seja educado meu filho, bom dia, como estás, está é a Lourdes, seu filho Antônio, Joana, se diz bom dia quando se chega a algum lugar, senão vão pensar que tua mãe nunca te educou.

Ele ficou totalmente sem graça, murmurou um Bom Dia, geral, depois se sentou numa cadeira, bufando.

Lourdes, tomou coragem, vim consultar os Orixás, com respeito a tua proposta de me casar contigo, mas sem querer descobri que tudo não passa de uma balela, pois não podes fazer isso, sem perder metade de teu patrimônio.  Entendi por que finalmente adia tanto esse encontro com tua família.

Quem te disse isso, foi meu sobrinho, é um farsante, começou a levantar a voz outra vez, soltando um ingrato, que nem respeita sua mãe.

Talvez tenha seguido seu conselho, porque tu tampouco respeita a tua.

Nisso o Exu, apareceu, puxou uma cadeira perto dele, começou a contar todas as coisas que ele tinha escondido, um outro filho, com outra mulher, seus negócios sujos, motivos pelos quais não podia divorciar, pois sua mulher sabia de tudo, o restaurante era uma fachada, detrás o qual ele se escondia.  Por isso tinha passado a administração para o filho.

Falou com as pessoas com quem ele estava metido, o que ele pensava em fazer com o filho da Lourdes, para não lhe atrapalhar seu romance.

A cara dele era de fúria, não estava acostumado a que lhe dissessem na cara tudo isso. Darei a dica a teu sobrinho, que mande investigar tua vida, no momento que ele toque em seu nome nos Estados Unidos, a Interpol bem como o FBI ou a CIA, vão aparecer aqui.  Por isso deixa de fazer papel de ofendido.

Se fosse você dizia adeus a todo mundo, desaparecia por um bom tempo, mas cuidado, muito cuidado, pois tudo pode acontecer, depois avise a tua irmã, que também tenha cuidado, sei o que está tramando, está arruinada, quer dinheiro, mas ainda não se atreveu a pedir.

Ele se levantou, disse adeus, saiu de fininho.

Nena, tinha lagrimas nos olhos, pois tinha entendido tudo.

Ainda por cima isso, um traficante de armas, misturado com a pior espécie de gente.  Fazes bem em não aceitar minha filha.

Lourdes tinha contado, que mesmo tendo uma pensão de viúva, tinha trabalho, costuro em casa para uma fábrica de roupas, nunca estou parada, assim posso estar perto dele.

Antônio ao ver que sua mãe tinha chorado, veio limpar suas lagrimas.

Acho melhor ficar uns dias na minha casa, ele não saberá que estás lá, depois tem mais gente na loja.

Joana que estava calada, falou, impressionante, agora entendi as coisas que me disseste na livraria.

Bom, tenho que te falar que adorei os dois livros, depois verás que tenho já os dois lidos, que quero falar contigo, mas primeiro vamos te preparar para o que vem pela frente.

Começou a rir, tua mãe iria ficar furiosa contigo, verdade, ela é da Igreja do Reino de Deus.

Me importa uma merda o que ela pense, apesar de ser minha mãe, se fosse por ela estaria casada com algum idiota, cheia de filhos, indo à igreja para dar o dizimo.  Inclusive não entende por que trabalho dando aulas as crianças com síndrome de Down.

Disse a Yao, como devia preparar o banho, depois jogo para ti.

Nena foi com a Lourdes, buscar roupas, bem como sua maquina de costura para irem para a casa dele.

Seu celular tocou nesse momento, era sua mãe furiosa, pelas coisas que seu irmão tinha lhe contado, como ousas pensar que estou sem banca.

Eu se fosse a senhora, ou vendia o apartamento que tens aqui para pagar tuas dividas na França, ou o de lá, mas fazer o que estás pensando, ajudada pelo teu irmão, em dar o calote nos teus credores, acho melhor pensar bem antes, porque eu de maneira nenhuma vou ajudar.

Bateram com o telefone na sua cara.

Ficou rindo, o exu tinha contado para ele desde o momento que ficou enquizilado, com a aproximação dela, a insistência em saber se tinha dinheiro.

Ela não sabia com quem estava lidando.

Depois jogou para a Joana, está só disse que nunca faria uma matança, que lhe respondeu que ele tampouco.

Apenas lhe disse que tivesse os pés no chão, pois o livro chamaria atenção, seria chamada pelos jornais, televisão, para participar em debates, que inclusive iam a convidar para ser política.  Só te digo uma coisa, nesse pais como no mundo atual, que temos tudo num galope desenfreado, hoje tens a gloria, nem dez minutos depois ninguém sabe quem eres.  Portanto pé no chão, qualquer coisa fale comigo.

Ela veio com eles para Ipanema, vivia sozinha num pequeno apartamento em Copacabana, mas foi com eles, para ajudar a que se acomodassem, os deixou no seu quarto, ele usaria o sofá cama, sem problemas.

Depois se sentou na sua saleta, para conversar com a Joana, deu um livro de desenhos, para o Antônio. Conversou com ela sobre os dois livros, o primeiro não tinha muita coisa para modificar, mas ela prestou a atenção nas mudanças que ele sugeria.  No segundo, mostrou a caderneta, leia tu mesma outra vez, mas acompanhando a caderneta, mostrou como fazia, pois anotava o número da página, o que ele sugeria.

Vou fazer o que me pedes, depois venho trazer novamente o texto.

Quando ela saiu, o Antônio, veio se sentar na sua perna, colocou o livro em cima da mesa, começou a contar para ele a história.

O menino, apesar do síndrome de down, tinha uma inteligência superior. Isso a Joana tinha comentado com ele no carro.

Na segunda feira, o levaria com ela a sua escola, para fazer um teste, aonde o podia encaixar, pois para ir em frente ele precisaria de estar fazendo aulas.

O garoto virou uma sombra dele, quando desceu, comentou, bem Antenor, acabou que voltei, tens mais algum livro que eu possa dar para o Antônio se divertir.

Esse disse que queria lápis, cadernos para desenhar uma história também, ele deu dinheiro ao Antenor, que foi a uma papelaria ali perto com o garoto, o deixando escolher tudo que queria.

Depois foi dar um passeio pela praia, com ele, junto com a Lourdes, esse foi falando, que desconfiava de algumas coisas de seu tio, pois realmente o tinha visto falando com alguns do tráfico do Morro do Alemão, ele de vez em quando desaparece por vários dias.

Pensei que era uma oportunidade, mas quando ele falou que não queria meu filho junto, fiquei com um pé atrás.

Depois de noite, foram jantar na casa do João, que sem dúvida nenhuma era um paizão, pois logo estava conversando com paciência com o Antônio.

João inclusive ofereceu sua casa para eles se hospedarem, o apartamento era antigo além de imenso.

Puxa, nunca pensei que fosse encontrar pessoas tão receptivas, lhe disse Lourdes, a senhora Maria inclusive costura também se ofereceu para me ajudar.

Talvez fosse melhor mesmo ir para lá.

No dia seguinte acordou com o Antônio, jogado na cama com ele, riu, pois nem tinha notado a sua presença, até o momento que ele segurou sua mão.

Estava tendo um sonho tumultuado, com sua mãe, nesse momento o garoto fez isso, como se sentisse que lhe passava alguma coisa.

Ficaram os dois ali no sofá, deitados conversando, até que sentiram cheiro de café, vindo da cozinha, ele arrumou o sofá, foi tomar um banho.

Enquanto fazia barba, deixou o Antônio metido no chuveiro, ele ria muito, aqui tem mais água quente que lá em casa.

Se não fosse talvez pelos olhos uma coisa tão particular nos que tinham síndrome de Down, não se notaria que tinha essa particularidade.

Logo estava desenhando, quando num momento desviou a atenção do que estava lendo, viu que ele estava desenhando o que tinha acontecido no dia anterior, na casa de sua avó.

Os desenhos eram perfeitos.   Desenhava seu tio, com um rabo de diabo.

Maria, chamo, convidando que fossem almoçar lá, pois tinha feito um bom feijão, como o João gostava.  Como era domingo, aceitou o convite, o menino levou seu material, para isso.

Na conversa depois do almoço, Lourdes aceitou o convite de ficar lá, assim eu teria paz, ia dizer que não, as duas já estavam arrumando a área de serviço para costurarem juntas, assim poderiam pegar mais encomendas.

Minha avó não pode parar, voltou com o Antenor, para buscar as coisas deles, queria conversar com ele, pois estava escrevendo algumas coisas.  Como ia as coisas, com ele, apesar de estarem quase todo dia juntos, nem sempre tinha tempo para falar.

Precisamos conversar, pois em breve começo a faculdade, pensei em fazer de noite, pois só tenho duas opções, ou de noite, ou de manhã.

Tens escrito alguma coisa?

Sim tenho dois contos novos, depois passo para ti, é como uma continuação do que escrevia antes, mas agora em tom mais otimista.

De noite esteve com Osiris, que vinha trazer o texto retificado, lhe deu uma cópia também em inglês.   Humberto tinha ficado preparando as maletas, para irem para NYC.

Comentou com ele, que os dois se davam bem, é ótimo conversar com ele, tem as vezes paciência comigo, pois sou ciumento, ele conhece muita, gente que vem falar com ele, mas me dedica especial atenção.

Depois ele entendeu que eu vim aqui atrás de ti, contei para ele o que tinhas me falado, eu entendo, não ia gostar de realmente saber que me estarias usando para esquecer o José.

Pediu para ele se lá poderia pesquisar a respeito do tio, mas com descrição, para não chamar muita atenção.

Perguntou se queriam que os levasse ao aeroporto, agradeceu, mas o Humberto, já tinha feito uma reserva com Uber.

A semana correu bem, tinha avisado a Joana aonde estaria o Antônio, esse vinha com o João a livraria, pelas tardes.

Tinha agora vários livros em andamento, os dois juntos iam a gráfica, estudavam a capa dos mesmos, era uma empresa funcionando.  O contabilista cada quinzena sentava-se com os dois para analisar tudo, impostos a pagar, tudo isso.

De uma certa maneira, a livraria se sustentava, bem como tinha caixa com o dinheiro ganho com os livros.

Era interessante, como comentou o João, se você fosse um bom carioca, estaria esbanjando esse dinheiro frequentando os melhores restaurantes, indo de férias, comprando carro do ano, etc.

Mas segues a tua vida como se nada.

Nunca gostei disso João, essa era a verdade, podia ser um tonto, um cara cheio de problemas, mas tive um pai que me ajudou até nisso, me dizia sempre, pés no chão.  Agora sei pelo Exu, que terei sempre gente nova em minha volta, precisando de ajuda.

Antenor lhe avisou que sua mãe, estava embaixo, acompanhada de um senhor que já tinha vindo várias vezes a livraria.

Olhou pelo visor, era o tal da editora, que será que essa jararaca está tramando.

Imediatamente entendeu, ela tinha convencido o outro, que o faria vender a editora, assim ele lhe pagaria por esse favor.

Venha João, vou te apresentar como meu sócio gestor, assim me ajudas a cortar isso pela raiz.

Não os convidou para subir, mas sim apresentou o João, como seu sócio na editora, os levou ao café ao lado.

Não estendeu a mão, tampouco beijou sua mãe, embora ela tivesse feito o gesto.

Bom vamos direto ao assunto, pois, tenho muito trabalho, não sou uma grande editora, que tem gente para isso, aqui dividimos o trabalho, os dois estamos lançando vários livros, a que movimentar muita coisa.

O sujeito com um sorriso na cara foi direto ao assunto, isso acabaria se trabalhasse para mim, pois tenho uma equipe para isso.

Infelizmente nosso contrato de firma não permite isso, o João não precisa de dinheiro, pois está aposentado, eu tampouco, isso para mim, é uma aventura bem sucedida, ontem estivemos com nosso contabilista, estamos no lucro.

Pois tua mãe me deu entender que estás em sérios apuros.

Olhou para ela, começou a rir, acho que te enganou, quem está em sérios apuros é ela, pois deve muito dinheiro.  Mas essa senhora deve vir te enganando a tempo, eu não a reconheço como minha mãe, nunca me criou, é bom saberes da história.

Ela fez um gesto como dizendo para calar a boca, mas ele continuou, fui criado primeiro pela minha avó, lá em Pilares, depois ela me mandou com 3 anos de idade para viver com meu pai, pois seu futuro marido não me queria.  Graças a Deus, meu pai, foi um homem sensacional, inclusive quando sua mulher lhe obrigou a escolher entre ela e eu, escolheu ficar comigo.

Foi tudo na minha vida, pai, amigo, confidente, acho que morrerias de inveja de um pai assim.

Portanto, essa senhora não é minha mãe.   Apenas levo no registro seu nome, mas olhe como assino meus livros, Carlos Smith.

Não estou interessado em vender nada, nem penso a respeito, mas se quiseres, posso mandar alguns textos que não tenho tempo para atender, para que teus editores analisem.

Se não queres editar, é sinal de que não são perfeitos.

Não, recebemos textos demais, é muita gente nova para entrar no mercado.

Nisso chegou a Joana, com os textos novos, ela riu, disse que tinha estado na editora do homem, foi lá que pensaram que eu procurava um emprego de copeira, nem da secretária passei.

Vê, esse jeito brasileiro, preconceituoso, dá nisso, pois vou editar dois livros dela, de imediato, uma nova escritora, além dos assuntos sérios que me interessam publicar.

Se desculpou, sem dar a mão a ninguém, disse que tivessem um bom dia.

Essa senhora trabalha para a Editora, lhe perguntou Joana?

Nada é minha mãe, que precisa de dinheiro, disse a ele, que eu venderia minha editora, para ela ganhar um dinheiro com isso, é igual ao irmão, por dinheiro são capazes de vender até sua mãe.

Quando o primeiro livro da Joana esteve pronto, avisou sua amiga jornalista, queria que ela lesse antes, além de escrever o prefácio, pois sabia que ela tinha uma linha de pensamento político, bem particular, apresentou as duas, lhe passou o texto.  Era como juntar duas pessoas inteligentes.

Depois ela disse que era uma honra escrever o prefácio num livro tão contundente, para a juventude manipulada do pais.

Pensava o mesmo que ele, que teria que ter muito pé no chão para aguentar o que vinha pela frente, se quiseres, posso ficar como uma espécie de agente tua, para selecionarmos, jornais, televisão, para os debates, essa, coisa, ia adorar fazer esse trabalho.

Boa ideia, iria te passando vários escritores novos, eles precisam disso alguém que saiba separar o joio do trigo, em termos de como fazer publicidade.

Meus filhos estão grandes, vivo sozinha, me sobra tempo.

Conversaram muito a respeito, ela comentou sobre um jovem escritor que tinha tido seu primeiro livro um sucesso, depois foi chamado para escrever para novelas, foi um fracasso, pois não estava preparado.

Aqui no Brasil, não temos como na Europa, ou América do Norte, esse conceito de aulas de escrita dramática, as pessoas aprendem a maioria na bordoada.  Além do sucesso que todos querem que sobem a cabeça como uma bolha de sidra cereser, depois fica tudo por isso mesmo, nenhum editor vai resgatar essa pessoa.

Gosto do teu trabalho por isso, é direto com o escritor, eu mesma estou escrevendo alguma coisa, um romance que me passou pela cabeça, depois vou trazer, para dares uma olhada, fazeres tuas famosas anotações.

Quando ficou sozinho com a Joana, lhe disse, ganhaste uma madrinha de peso, siga suas instruções, pois foi uma das poucas pessoas sérias que encontrei por aqui.

Perguntou como ia o Antônio na escola?

Por incrível que pareça, sua mãe fez um trabalho formidável, pois o educou como se fosse uma criança normal, ele já alcançou os estágios superiores, o que para sua idade é muito.

Quer estudar belas artes, pois realmente desenha bem, na escola, temos o elementar, nada mais, mas seu João disse que ia conseguir um professor para ele.  É como se fosse seu neto, é impressionante, esse homem construiu uma família do nada.  Está sempre incentivando os outros a irem para a frente.  

Ele concordou, imagina, agrupou a Maria, com a Lourdes, mais várias senhoras do prédio, como tem uma área de festa que ninguém usa, elas estão todas trabalhando para várias confecções de roupas, que mandam trabalho para fora, ganham todas dinheiro, como uma cooperativa.

Outro dia interrompi sem querer vossa conversa com o editor, não quis falar nada, mas ele me chamou para conversar, o atendi por telefone, me disse que me daria um contrato permanente, pois se tu acreditavas em mim, ele também o faria.

Me desculpei, pois estava muito atarefada, quase o mandei a merda.

Ele vai tentar descobrir quem traz textos para ti, para roubar de você.

Não se preocupe, o que é do homem o gato não come.

Ficaram rindo, ele sabia que alguns poderia se interessar, para ter um departamento de publicidade, todo para trabalhar para ele, mas se esquecia do que dizia a jornalista, não se preocupavam com a pessoa, como ele fazia.

De NYC lhe chamaram, pois tinham gostado do livro do Osiris, se ele tinha um contrato com ele?

Não, só para a edição no Brasil, vocês já tem o trabalho limpo.

Assim que tiver um livro, que sei que vocês vão gostar, de uma jovem, creio que poderei traduzir para o Inglês, depois te mando.

A camaradagem com o antigo chefe era boa, como ele sempre dizia, saia, mas deixe sempre uma janela, portas abertas.

O livro da Lourdes, foi como ele pensava, provocou uma oleada de os que falavam mal, propiciavam uma divulgação do mesmo, a primeira edição se esgotou em menos de duas semanas, iam agora para a terceira.  As livrarias não paravam de pedir, o João inclusive tinha contratado um rapaz de seu edifício que tinha carro para fazer esse trabalho de repor nas livrarias.

As entrevistas, orientada do Beatriz Cavalcante, a jornalista, ela se saia bem, as pessoas mais politizadas, se batiam de frente com argumentos sérios, nada de quero vender minha ideias.

Mas de um partido a convidou para suas filas, mas ela não se interessava.

Ele leu os vinte primeiros capítulos do romance que tinha a Beatriz, gostou, fez como sempre sua caderneta, de anotações, ela adorou, pensei que estava escrevendo uma besteira, mas conviver contigo me faz bem.

Quando o editor soube que estava escrevendo um livro, logo se ofereceu para publicar, ela disse que não, que já tinha um contrato.

Quando o livro ficou pronto, foi um sucesso, nas entrevistas ela agradecia ao Carlos Smith por todas as orientações que ele tinha dado.  Lhe perguntavam se não era esse da editora de gente jovem.

Ela explicou que ele consideravam gente jovem, os escritores que queriam uma oportunidade, eu conhecendo sua maneira de trabalhar, pedi por favor que olha-se os vinte primeiros capítulos, pois estava estagnada, ele me deu a direção que eu devia tomar.

O novo livro de contos do Norberto, também estava indo em frente, ele pouco tinha feito de correções ou melhor indicações, como ele chamava seu trabalho.

Antenor, já sabia como ele pensava, escrevia agora de uma perspectiva que sua vida tinha mudado, tinha conseguido a chance de seguir em frente, mas como todos os jovens, tinha dúvidas, ele analisava essas questões, com muita propriedade.   Um dos contos que fazia enorme sucesso, ele falava do amor, como ele, bem como os de sua idade, confundiam, ele tinha conversado a respeito com os companheiros de universidade, todos tinha uma certa confusão a respeito.

O lançamento do livro, foi concorrido, como tinha sido o da Joana, agora sairia o do Osiris, pois tinha que esperar que esse voltasse ao Brasil, lançou o de lá, voltou para o do Rio, o apresentou a Beatriz, que se tornou sua agente também, o acompanhava pelos platôs de televisão, rádio, entrevistas nos principais jornais, também foi rápido o sucesso.

Agora, o do Humberto, que tinha refeito alguns trechos de seu livro.  O amor, o tinha feito pensar de maneira diferente.

Beatriz veio lhe dizer, que realmente o editor, como estivesse em guerra com ele, pois mal tinha descoberto que ela era agora agente desses escritores, a tinha o convidado para esse trabalho na editora. 

Imagina que mal sabe ele que não cobro para fazer isso, era capaz de me dar o título de diretora, se matava de rir.

Ela era uma mulher esperta, contatou com todos que fazia críticas de livro, para conversarem, fez um trabalho exemplar, queriam que eles soubessem como o Carlos, escolhia, ou melhor aceitava a Editar um livro. Qual era seu processo de trabalho.

Alguns inclusive disseram que dois editores tinham falado mal dele, um americano que vem aqui botar banca em nosso trabalho, diziam isso, pois esperavam um tipo americano, mas quando encontravam uma pessoa falando um português perfeito, ainda dizia que era de Pilares, riam das críticas.

Lhe perguntaram se atreveria a editar algum livro de uma pessoa saída de uma favela?

Claro que sim, foi um dos primeiros clientes que tive, embora hoje trabalhe comigo, vivia numa favela com sua avó, ele faz questão que as pessoas saibam disso.

Apareceu um jovem que veio de Quintino, com um texto muito interessante, sobre o samba, devia ter uns 16 anos, o que era o samba para ele, bem como tocar na bateria de uma escola, ele falando era cheio de ginga, bem como sua maneira de escrever, era como ver uma pessoa apaixonada por isso.  Contou que tocar numa bateria, bem como compor música o tinha salvado de ser um traficante de drogas, um alcoólatra.

Leu o texto todo fez suas anotações, pediu consentimento dele, tirou duas cópias, passou para o Antenor, bem como para a Joana, os convidou para lerem, depois se reunirem os três para discutir.  Depois ampliou, com Osiris, Humberto bem como a Beatriz.

Geovaldo Prazeres, ficou alucinado, pois todos realmente tinham lido seu texto, conversaram muito sobre ele.    Não estava preocupado em contar a história do samba, mas sim o que o samba tinha feito por ele.

Humberto teve a paciência de sentar-se com ele, para corrigir o texto em cima da gramática, mas sem perder o frescor que ele tinha ao falar, pois escrevia da mesma maneira.

Beatriz foi experta no lançamento do livro reuniu os outros escritores, como tinham feito antes, todos conversavam como encaravam o samba.  O programa foi um sucesso, ela voltou a ter seu programa na televisão.

Aceitava que os outros editores mandassem escritores para conversarem, mas a maioria estava fechada em um círculo, comandado somente pelo editor.

Agora tinham um distribuidor, que mandava para o Brasil inteiro, os escritores ganhavam mais dinheiro, seu contabilista, tinha agora duas pessoas só fazendo isso.

O rapaz que ajudava o João, agora era seu braço direito.

Nessa época, Nena sua avó ficou mal, ele passava os dias lá, com ela, se revezavam entre Maria, Lourdes, mesmo alguma outras senhoras que sempre a tinha conhecido, mas ele dormia todas as noites lá com ela.

Ela já no final, disse, vais ter uma batalha a troco de nada, tua mãe, bem como teu tio, vão querer disputar a única coisa que posso deixar de herança essa casa, a qual eles na verdade tem horror.   Por eles esse Iroco nunca existiria, teu tio que ainda vinha me visitar, desapareceu, segue com sua vida, tua mãe, não sei aonde anda.

Ele sim sabia, tinha se casado novamente com um velho rico, que a ajudou a pagar suas dívidas.

Avisou os dois que ela estava mal, nunca apareceram.

Quando ela morreu, foi uma coisa impressionante, saiu no jornal inclusive, a quantidade de gente ali da região.   Ele aparecia, ao lado do João, segurando seu caixão.

Beatriz que tinha chegado a conhece-la escreveu um artigo sobre ela, do neto que não renegava suas raízes.   Apesar de ter avisado ao tio, bem como sua mãe, numa chamada internacional, essa disse que não podia ir, tinha compromissos.

Mas como ela tinha previsto, quando o advogado leu o seu testamento, em que deixava o único bem que tinha, a casa, sendo explicita, que ninguém poderia tocar no Iroco.

O tio, bem como sua mãe, entraram na justiça, porque queriam a casa.

Ele contratou um advogado especialista, finalmente quando foi a julgamento, o tio apareceu, para depor, mas sua mãe, mandou um representante.

Ele ganhou a causa, principalmente pelo depoimento das duas últimas Yaos que ela tinha, que os filhos nunca apareciam, quando vinham era para a deixar nervosa, que seu neto sim, tinha cuidado dela, até o final, desde que esse rapaz a descobriu, pois não sabia que existia, nunca deixou de ir visita-la.

O tio o ameaçou, ele respondeu francamente, mova qualquer ficha, eu aviso a quem tenho que avisar.

Não terás coragem de fazer isso, posso te mandar matar.

Mas antes, todo mundo vai saber quem eres na verdade, inclusive tua família.

Dito e feito, a melhor arma de defesa é o ataque.  Avisou a Interpol, FBI, CIA, aonde ele estava, em seguida desapareceu, foi um escândalo, pois para muitos era uma pessoa do bem.

Seu primo, inclusive o agradeceu, consegui passar o restaurante para meu nome, pois minha mãe tem uma grande porcentagem nas ações, agora é um negocio meu.  Ele tentou me levar para esses outros negócios, lhe disse que com o restaurante e o surf estava bem.

O pegaram nos Estados Unidos, sempre tinha tido uma dupla documentação, só não sabia que sua mulher sabia disso, ela deu a dica as autoridades.

Ele agora, passava a aparte da manhã na livraria atendendo, mas a parte da tarde estava na casa atendendo os necessitados.

Um dia apareceu um jovem, de sua idade, comentou que tinham feito um trabalho para ele, tinha sofrido um acidente, desde então não estava bem.

Depois de um banho, o fez sentar-se para jogar para ele.

Ficou horrorizado, pensava que isso já não existia mais, fazer trabalhos para matar uma pessoa.

Lhe disse que não se preocupasse, que os exus iam devolver tudo para quem tinha feito isso contra ele.

Exu lhe chamou a atenção, coloque a mão na cabeça do rapaz. Realmente o problema era sério, devido ao acidente, tinha um coagulo no cérebro.

Melhor ir para o hospital imediatamente.  Perguntou se ele estava ligado a algum sistema médico, trocou de roupa rápido, o colocou no carro, foi para a melhor nesse tipo de problemas, deu seu cartão de crédito que nunca usava, que ele tivesse um quarto, mas já no primeiro exame, o levaram para a sala de operações.

Foi uma coisa de horas, segundo o médico, mais um dia, estaria morto.

Depois foi vê-lo na UTI, perguntou se queria que avisasse alguém?

Lhe disse um horário, em que sua mãe estaria sozinha em casa, pois seu pai, não o aceitava por ser gay.

Ele avisou a todos, ficou ali no hospital com ele, segurava sua mão, avisou sua mãe, que apareceu justo no dia seguinte, no horário que o marido estaria trabalhando, foi um encontro bonito, sentou-se depois com ele, para dizer que não sabia o que fazer.

Nada, ele sabe que a senhora o quer, isso lhe basta, depois quando sair do hospital, o levo para minha casa, para que se recupere.

Entre eles nasceu um vínculo, Alberto João Batista, era um artista plástico, depois lhe contou o que tinha se acontecido, ele sempre tinha usado sua intuição em termos de relacionamento, teve um homem que nunca aceitou suas recusas de sair com ele, bem como ir para a cama.

Sim tens um exu, muito bom, ele te levou para perto de mim, pois sabia que ia te ajudar.

Ficavam conversando horas, principalmente de noite. Estava louco para voltar para seu studio, um dia João veio resolver umas coisas com ele, o Antônio veio junto, mostrou os desenhos que estava fazendo, mas ele queria pintar, para isso necessitava de espaço, mostrou o trabalho do garoto para o Alberto, que adorou, quando meu carcereiro, me liberar, podes ir para o meu studio, ele o tinha em Santa Tereza, assim como João vivia na Gloria era fácil de levarem o Antônio.   Agora se viam sempre, se deu conta que com o tempo, José estava num bom lugar na sua memória.  Quando comentou isso com o Antenor, esse se virou rindo, espero agora ter uma oportunidade, já não sou aquele garoto, a não ser que estejas apaixonado pelo Alberto.

Não estou, pode ficar tranquilo, sem querer, deixou o Antenor se aproximar, foram ficando juntos, acabaram na cama.  Rindo porque como ele dizia, sou virgem, tens que me ensinar tudo.

Mas era uma coisa espontânea, quando viu, já estava dentro do romance, o queria muito, os dois compartiam mil coisas, foi treinando o Antenor, para ser um editor, lhe ensinou todo seu trabalho, como fazia, como pensava, como analisava os mínimos detalhes de um texto, primeiro les as 10 primeira páginas, se te interessa seguir em frente, é sinal que te conquistou com a historia ou o texto.  Volta essas dez primeiras paginas a passas a analisar cada detalhe do texto.

Agora tinham uma garota que ficava uma parte do dia, quando o Antenor chegava da universidade, o primeiro era ir beijar o seu amado, a quem tinha esperado tanto.

Três dias da semana ele ia para Pilares, atendia quem aparecia, fazia suas obrigações com o Iroco.

Um dia de manhã, a Yao o chamou nervosa, ao entrar pela lateral da casa como sempre faziam, tinha encontrado seu tio morto.   Lhe disse o que fazer, vou para aí, chame a policia ok, chamou o João que disse que ia com ele, passo por tua casa em seguida, se deitou cinco minutos com o Antenor, o beijou, avisou o que ia fazer, volto tarde.

No momento que saia, avisou seu primo, este ainda estava dormindo, deixou recado, que o chamasse urgente.  

Quando chegaram lá, claro não havia nada a fazer, viram que seu carro estava parado perto da entrada, que ele já tinha vinha ferido de algum lugar, com certeza esperava que o ajudassem, não contava que a casa estivesse vazia.

Quando seu primo acordou, lhe chamou, lhe disse o que tinha acontecido, que o iam levar para o necrotério, havia que fazer autopsia.  Perguntou para aonde, esse disse, avisou ao primo, este como sempre nem disse obrigado.

Agora era avisar sua mãe, mas sabia que ela tinha vendido a tempos atrás o apartamento do Leblon, portanto acreditava que não viria.

Fez uma quantas coisas, conversou com o Exu, para saber como devia se comportar.

No carro na volta, João tocou no assunto do Antenor.  Ele sorriu, nunca pensei que ele menino fosse assim apaixonado por mim, esperou, mas segundo ele muito, pois me queria desde que me viu.

Eu igualmente estou apaixonado por ele, podia estar por qualquer pessoa, por isso o estou ensinando para que aos poucos ocupe meu lugar, a inteligência dele é impressionante.

Quando chegaram ao necrotério, seu primo já estava lá, perguntou se estava contente?

Com o que?

Com a morte de teu pai, quem fez essa merda toda foi ele, não eu, quem vendia armas, traficava com as mesmas foi ele.

Não tenho culpa nenhuma nisso, cada um cava o buraco que quer, claro sair depois é um problema.

Ele tinha voltado na surdina para o Rio, vivia na casa de uma das muitas amantes que tinha, depois se descobriu, que uma outra que tinha filho dele, lhe pediu ajuda, ele se negou, ela o denunciou.

Espero que não venhas ao enterro?

Não se preocupe, não irei, só fui atender, pois morreu na entrada da casa da Nena, nossa avó, só por isso.

Avisou sua mãe, mas a resposta já esperava, não podia se ausentar de Paris, pois seu marido estava mal, ainda soltou, agora sou enfermeira desse velho.

Nem perdeu tempo argumentando com ela, lhe disse que entrasse pelo menos em contato com seu sobrinho.

Ele seguiu sua vida em frente, agora com o Antenor, levando a maior parte da editora, com ajuda da Beatriz, João, além da colaboração da Joana, podia se dedicar também a levar os textos mais complicados para a casa de Pilares, bem como atender as pessoas que o procuravam.

Quando estava lá, Antenor vinha todos os dias comer com ele, além de ficar para dormir, não consigo dormir se não estas.

João as vezes trazia o Antônio, que dizia, quero falar com meus amigos, tenho dúvidas, quero esclarecer.

As águas estavam mais mansas, ele sempre desconfiava disso, até receber a noticia que sua mãe estava presa em Paris, acusada de envenenar o marido.

Não moveu nem um fio de cabelo, que faz paga soltou.

Nunca mais escutou falar nela.

Ele junto com o Antenor, era agora conhecidos como bons editores, que a equipe era boa.

Ele pensava sai de Pilares, acabei voltando as origens, embora as origens para ele era o Iroco, a casa de sua avó, de quem sentia saudades imensas.

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